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HOMILIAS PARA O

PRÓXIMO DOMINGO


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sábado, 3 de setembro de 2011

CORREÇÃO FRATERNA


HOMILIAS  PARA  O

 PRÓXIMO DOMINGO
04 DE SETEMBRO – 2011
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Fiéis à Doutrina da Igreja Católica, porque somos católicos.
Respeitamos todas as religiões.  Cristãs e não cristãs.

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Introdução
É difícil separar o erro daquele que erra- Sal
Nós temos uma grande dificuldade em separar o pecado do pecador. De separar o erro daquele que erra. E decorrente disso, partimos para a vingança, ou para a impunidade. 
            Por vingança, o marido traído mata a esposa. Por vingança, o empregado despedido incendeia a fábrica ou a loja do patrão. Pela impunidade do Estatuto do Menor, são cometidos crimes bárbaros. Pela impunidade ou pela flacidez das leis, os cofres públicos são esvaziados para encher muitos bolsos.
            Aquele pai bonzinho que deixa o filho fazer tudo, e ainda vai a escola brigar com a professora que puniu o seu “filhinho” pela sua indisciplina, está gerando um monstrinho para a sociedade. Aliás, os grandes monstros sociais que apavoram a paz nos bairros, são frutos de lares desfeitos, de brigas entre os pais, traições, bebedeiras etc.     Porque atrás de um aluno problema, estão os pais problemas.
O mesmo Jesus  que disse que devemos perdoar 70 x 7 vezes, isto é, infinitas vezes, foi o mesmo que  pegou um chicote e expulsou os vendilhões que tinham transformado o Templo em um covil de ladrões. Foi o mesmo Jesus que disse nas caras dos fariseus e doutores da Lei, todos os seus defeitos em público, chamando-os de hipócritas, e de sepulcros caiados (defuntos maquiados), por fora bonitinhos e por dentro podres...
            Perdoamos infinitas vezes as ingratidões dos filhos, a chatice do marido, a falta de reconhecimento da esposa, o incômodo do vizinho... Mais na verdade, não perdoamos, e sim, deixamos pra lá. Pois não perdoamos nenhum deles, não perdoamos as pessoas em si. Guardamos a mágoa dentro de nós, o que nos faz tanto mal. E ficamos aguardando um momento certo para nos vingar. É assim. Quando o irmão ou a irmã nos pede perdão, dizemos: Eu vou te perdoar. Mas não fala mais comigo! 
            Prezado leitor. Se nós somos imitadores de Cristo, temos de fazer uma grande força para separar as duas coisas. O erro da pessoa que erra. Precisamos dosar com imparcialidade e critério de justiça os delitos e infrações cometidas pelos nossos irmãos. Deixemos a raiva passar, para depois sentenciar. Nunca devemos punir na hora da emoção maior, pois assim, cometeremos injustiça ou vingança pensando que estamos punindo um erro, e não a pessoa.   
O padre pedófilo tem de ser perdoado, sim. Mais a pedofilia não pode continuar a fazer parte da vida da  Igreja. Aquele prefeito que não resistiu a tentação de botar a mão no dinheiro público, não deve ser morto por vingança, mas sim, punido, pois Jesus disse que toda injustiça deve ser corrigida. Do mesmo modo, aqueles que estão desviando o dinheiro da Previdência Social para os seus bolsos, serão perdoados, porém precisam devolver todo o dinheiro para que os aposentados não passem fome injustamente.
            Aquele pai que perdoou o seu filho por ter feito um jogo de bola na sala com os amigos e ter quebrado a televisão e a estante, disse quando o filho com cara de anjinho lhe pediu desculpas:
- Eu te perdoou, mas é o seguinte: Você vai ficar sem televisão um bom tempo. Primeiro para você entender que a sala não é um campo de bola. E Segundo, eu não tenho no momento dinheiro suficiente para comprar uma nova televisão.
            Prezados. Não é fácil. Mas vamos pedir a Deus em nome de Jesus que nos ajude a separar o pecado do pecador. Evitando assim, as mágoas, os rancores, a vingança, ou a impunidade.
            Tenha um bom domingo. Sal
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Jesus nos dá conhecimento que  o que fizermos aqui na terra terá o efeito no céu.
                                    O Senhor nos exorta a que sejamos pessoas coerentes nas nossas atitudes de relacionamentos, prudentes nos julgamentos, com a consciência de que o céu é testemunha das nossas ações na terra e afirma que seremos atendidos na nossa oração em comum quando tivermos unidade uns com os outros nas nossas reivindicações. A Sua primeira exortação é para que não condenemos ninguém somente pelas aparências, sem avaliar os seus motivos. O próprio Jesus nos ensina os passos para que possamos ajudar ao nosso irmão quando ele erra. Ninguém tem direito a se omitir, muito pelo contrário, todos nós somos convidados por Deus a nos manifestar com amor a fim de esclarecer certas situações. Enquanto não tivermos a consciência do que se passa com os nossos irmãos, não poderemos desistir deles, mesmo que seja preciso pedir o auxílio de pessoas e até mesmo da Igreja.
                             Deus nos colocou aqui na terra como colaborador da Sua obra e o nosso irmão é Sua criação, necessitado de salvação, de misericórdia e de compreensão. Depois, Jesus nos dá conhecimento de que todas as nossas ações aqui na terra terão ressonância no céu. Por isso, tudo que fizermos aqui na terra terá o efeito no céu, conforme seja a nossa ação. Desse modo, Ele nos abre os olhos para enxergar que não vivemos somente para a terra e, que aqui, nós estamos construindo a nossa morada no céu. A nossa prudência nos julgamentos se alia ao amor, ao zelo e a fraternidade, dessa forma, fazer tudo pelo bem do outro é também uma maneira de cultivar a unidade. Podemos divergir em alguns pontos, mas no que se refere às coisas de Deus devemos acertar o passo uns com os outros e entrar em sintonia com Ele.
                          Assim sendo, Jesus nos motiva a nos reunir em Seu Nome unindo as nossas súplicas pelo bem comum, na certeza de que seremos atendidos nos nossos anseios. Unidade na vida e na oração é isso o que o Senhor nos propõe, hoje. Reflitamos:– Você tem tido paciência com os erros dos seus  irmãos ?  Como você acha que está a sua situação no céu em relação ao que você tem vivido na terra?  Qual é a primeira regra para os nossos relacionamentos?  Você costuma se reunir com os seus  amigos para pedir a Deus, em Nome de Jesus, alguma coisa em comum? Qual é o resultado dessa experiência?
Amém
Abraço carinhoso
Maria Regina 

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Homilia do D. Henrique Soares da Costa – XXIII Domingo do Tempo Comum – Ano A
Ez 33,7-9
Sl 94
Rm 13,8-10
Mt 18,15-20
Nossa meditação da Palavra do Senhor neste Domingo pode ser desenvolvida em cinco afirmações. Ei-las:
(1) Cristo está presente na sua Igreja; jamais a deixará, “pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou aí, no meio deles”. Caríssimos, quantas vezes tal afirmação foi distorcida como se bastasse que uns quatro gatos pingados se reunissem com a Bíblia e aí estaria Jesus. Nada disso! O sentido é exatamente o contrário. Aqui, neste capítulo 18 de São Mateus, Jesus está falando sobre a vida da Igreja, comunidade que ele fundou e entregou aos apóstolos, tendo Pedro por chefe. Os dois ou três aos quais se refere o Senhor são os líderes da Comunidade que vão decidir a questão do irmão que não quer ouvir os outros e divide a Comunidade! O que a Igreja liga ou desliga na terra – e são os pastores (os Bispos com o Papa) que têm, em última análise, essa responsabilidade – o Senhor ratifica no céu: “Em verdade vos digo, tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra, será desligado no céu!” A autoridade que Cristo deu a Pedro de um modo todo especial, deu-a, aos demais Bispos, os pastores autênticos da sua Igreja, em comunhão com Pedro. Pois bem, onde dois ou três, como Igreja, estiverem reunidos em nome do Senhor, ele estará ali, ratificando suas decisões. Que fique claro: não se pode agradar a Cristo, ser-lhe fiel, rompendo com a sua Igreja! Ela, por mais que seja frágil por causa da nossa fragilidade, é a Comunidade que o Senhor reuniu, sustenta e na qual se faz presente atuante!
(2) Essa Igreja é uma Comunidade de amor. O amor cristão não é simplesmente amizade ou simpatia humana, mas o fruto da presença do próprio Espírito de Amor, o Espírito Santo em nós: “O amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito que nos foi dado!” (Rm 5,5) É desse amor que fala São Paulo no capítulo 13 da Primeira Carta aos Coríntios; é esse amor que “cobre uma multidão de pecados” (Tg 5,20), é esse amor que é “a plenitude da Lei”. Só ama assim quem se abre para o amor de Cristo, deixando-se guiar e impregnar pelo seu Espírito de amor! Ora, caríssimos, a Igreja deve ser o ambiente impregnado desse amor, mais forte que nossas diferenças de temperamento, de opiniões, de modo de agir… Onde está o amor, a caridade, Deus aí está; onde o amor reina, o Reino de Deus está presente neste mundo! A Igreja deve ser o lugar do amor, lugar do Reino!
(3) Essa Comunidade de amor é Comunidade de compromisso, de responsabilidade no seguimento de Cristo. Por isso, não se pode usar o amor para acobertar a covardia, a tibieza, a frieza para com o Senhor e os irmãos e os demandos na Comunidade! O amor é exigente: “O amor de Cristo nos impele” (cf. 2Cor 5,14). A infidelidade ao amor a Cristo e aos irmãos é, precisamente, o pecado, que gera a divisão, a desunião, que faz sangrar a Igreja. Por isso Jesus nos exorta à correção fraterna, desde aquela simples, feita entre irmãos, até a correção formal e mais solene, feita pelo Bispo ou até mesmo pelo Papa, como Chefe Supremo da Igreja de Cristo neste mundo: “Se o teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo; se ele não te ouvir, toma contigo mais uma ou duas pessoas; se ele não der ouvido, dize-o à Igreja”. Muitas vezes, vê-se confundir amor e misericórdia com a covardia ou o comodismo de não corrigir. Ora, caríssimos, a correção é um modo de amar, é um modo de preocupar-se com o outro e com a Comunidade que é ferida pelo pecado e o mau exemplo. A correção pode salvar o irmão. Quantos escândalos nas nossas Comunidades poderiam ter sido evitados se houvera a correção no momento oportuno e do modo discreto e sincero que Jesus nos recomenda. Isso vale para a Igreja menorzinha, que é nossa família doméstica, vale para o grupo do qual participamos, vale para a paróquia, a diocese e a Igreja universal (não a “do Reino de Deus”, mas a de Cristo!), espalhada por toda a terra. A omissão em corrigir é covardia, é falta de amor à Comunidade que é a Igreja, é pecado de omissão e desatenção pelo irmão. Certamente, tal correção deverá ser feita sempre com amor, com discernimento, com caridade fraterna. São Bento, na sua Regra, dá um preceito encantador: “In tribulationem subvenire” – poderíamos traduzir assim: “socorrer na tribulação”. Mas, a palavra latina é subvenire: vir por baixo, vir de baixo. Ou seja, socorrer sim, corrigir sim, mas com a humildade de quem vem por baixo para sustentar, amparar e ajudar, para salvar; não vem com a soberba de quem está por cima para massacrar! Corrigir, sim, mas como Deus, que em Jesus, veio por baixo, na pobreza do presépio e na humilhação da cruz! Aí a correção terá mais chance de surtir efeito!
(4) Na Comunidade de amor às vezes pode ser necessária a punição. Pode ser que não surta efeito a correção fraterna; pode ser que aquele que é corrigido teime na sua dureza de propósito e repouse no erro. Jesus mesmo prevê tal possibilidade no Evangelho de hoje. E, então, o próprio Senhor exorta a que tal irmão seja punido. Que escândalo para a nossa mentalidade atual! O pobre do Papa Bento XVI, antigo Cardeal Ratzinger, sabe o quanto foi difamado porque teve que impor penalidades a teólogos ou outros irmãos que, após a correção, não se emendaram! A nossa tendência é somente recordar do Senhor as palavras que agradam! No entanto, a punição na Igreja não é pela vingança ou o desafogo, mas deverá ser sempre medicinal, isto é, para produzir o arrependimento e a correção, restabelecendo a paz na Comunidade e a salvação do irmão. Que os pais tenha a coragem de corrigir, os Bispos e o Santo Padre também. Aliás, de João Paulo II e Bento XVI, sabemos que a têm, graças a Deus!
(5) Qual o fruto de uma comunidade assim? A saúde fraterna: a alegria de viver como irmãos: “Se ele te ouvir, tu ganhaste o teu irmão!” Oh, que palavra tão doce: ganhar o irmão! Eis aqui o motivo último da correção fraterna! Pensemos bem, caríssimos: a Igreja não é um clube de amigos, mas uma família de irmãos em Cristo! É o amor do Senhor Jesus Cristo que nos une. A alegria da comunhão fraterna somente será experimentada na sinceridade das nossas relações. Correção, sim; crítica destrutiva, murmuração, difamação, não! Neste sentido, todos nós precisamos fazer um sério exame de consciência, seja em nível de família, como naquele de grupos e paróquias e, até mesmo, de Diocese!
São esses os aspectos que a Palavra de Deus nos põe hoje. Recordemos a exortação do Senhor pela boca de Ezequiel: se não corrigirmos o irmão e ele morrer no seu pecado, a culpa é nossa; se ele se corrigir, ganhamos o irmão: viveremos nós e viverá ele – eis a marca do Reino de Deus neste mundo! Que ele aconteça em nossas comunidades! Amém.
D. Henrique Soares
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Homilia do Padre Françoá Costa – XXIII Domingo do Tempo Comum – Ano A
Correção fraterna: sinal de amor verdadeiro
Como é bom encontrarmos irmãos que querem o nosso bem. No cristianismo, a correção fraterna sempre foi o um bem admirado, ainda que, frequentemente, pouco compreendido e, talvez, praticado com escassez. Jesus, no dia de hoje, explica-nos de várias maneiras como corrigir quem erra. À pessoa que é corrigida, o Senhor lhe dirige essas palavras: “aquele que ama a correção ama a ciência, mas o que detesta a reprimenda é um insensato” (Prov 12,1). Perguntemo-nos: queremos que os outros nos ajudem? Desejamos que os nossos irmãos nos corrijam? Temos essa sensatez de quem é consciente de que sozinho não podemos chegar à meta da santidade e de que, portanto, necessitamos da ajuda dos irmãos na fé? São Cirilo dizia que “a repreensão que melhora os humildes costuma ser intolerável aos soberbos”. O humilde deseja ser ajudado, o soberbo basta-se a si mesmo e… quebra a cara!
Também, na literatura profana, encontramos exemplos de ajuda mútua, de orientação e de correção. É edificante ler que Circe de lindas tranças, na Odisséia (Homero), explica ao valente Ulisses como ele deve passar por entre as sereias de belas vozes sem deixar-se arrastar pelo seu harmonioso canto e, desta maneira, não terminar destinado ao cemitério de ossos humanos putrefatos. Ulisses, obediente, à voz de Circe, explica aos seus companheiros que devem ter os seus ouvidos untados com cera para não escutarem a voz das sereias. Ulisses, ao contrário, escutaria a voz das sereias, mas com a seguinte precaução: pede aos seus companheiros que lhe atem os pés e as mãos com cordas. Feitas as coisas desta maneira, chega o momento da terrível prova. Em efeito, Ulisses encantado com as vozes das sereias pede aos seus companheiros que lhe desatem, mas Perímedes e Euríloco, em vez de obedecer, ataram-lhe com mais cordas. Desta maneira, os amigos leais passaram incólumes por essa grande provação.
Nós também, se formos amigos leais ou, melhor ainda, se formos irmãos leais, ajudaremos os nossos irmãos. Não os ataremos com cordas para que não pequem, mas lhes daremos os oportunos conselhos para não ofenderem o Senhor e falar-lhes-emos da importância de ser prudentes nisso ou naquilo; caso errarem, lhes corrigiremos com caridade. Nem mesmo perderemos a oportunidade de advertir-lhes – esse é o coração da correção fraterna – sobre alguma coisa que represente algum perigo para eles, especialmente em relação à salvação eterna. O amigo atencioso e cheio da caridade cristã procurará inclusive prever as dificuldades do outro e procurará conduzi-los a bom porto.
Não podemos permitir que episódios semelhantes àqueles que aconteceram nos primórdios da criação continuem sucedendo. Você se lembra? Depois que Caim matou Abel, Deus lhe pergunta: “Onde está o teu irmão?” (Gn 4,9). Caim, covarde e falto de sinceridade, responde ao Senhor: “Não sei! Sou porventura eu o guarda do meu irmão?” (Gn 4,9). Deus não quis dar uma resposta ao interrogante de Caim, mas, sem dúvida, a resposta seria “sim, você é o guarda do seu irmão”. Todos nós temos a responsabilidade de ajudar os outros, temos que cuidar dos nossos irmãos pois… são nossos irmãos!
Talvez seja esse o momento de recordar que há uma obra de misericórdia espiritual que acolhe em si a boa ação da correção a um irmão. “Instruir, aconselhar, confortar são as obras de misericórdia espiritual, como também perdoar e suportar com paciência” (Cat. 2447). Aconselhar! Aí se encontra, portanto, a correção fraterna entre as obras de misericórdia.
Quando não se pratica a correção fraterna é muito fácil cair na murmuração ou nas indiretas. No primeiro caso, murmuração, a coisa se transforma em fofoca; no segundo, dar indiretas, se procura o momento mais oportuno para disparar uma flecha venenosa com uma língua de serpente. “Isso chama-se: bisbilhotice, murmuração, mexerico, enredo, intriga, alcovitice, insídia…, calúnia?… vileza? – É difícil que a “função de dar critério” de quem não tem o dever de exercitá-la, não acabe em “negócio de comadres”” (S. Josemaría Escrivá, Caminho, 449).
Como irmãos em Cristo, temos o dever de corrigir-nos e o direito a que nos corrijam. Vou insistir no direito: é preciso inclusive pedir aos outros que, por favor, nos façam oportunas observações. Quando se tem a humildade de receber uma correção fraterna em silêncio, sem justificar-se, com um sorriso e com um agradecido “obrigado” nos lábios, é sinal de que realmente estamos sendo movidos pelo Espírito de Deus, de que temos autêntico desejo de santidade e de que sabemos ver nas correções que nos fazem o interesse dos nossos irmãos em ajudar-nos. Tenhamos por certo que as pessoas que nos corrigem querem o nosso bem. Os pais, por exemplo, que amam os seus filhos não omitem a oportuna correção. Advertir, corrigir, aconselhar é sinal de carinho verdadeiro pelas pessoas; isto é, porque queremos o bem delas, procuramos afastar para longe delas tudo aquilo que possa fazer-lhes dano.
Pe. Françoá Costa
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Homilia do Mons. José Maria – XXIII Domingo do Tempo Comum – Ano A
Correção Fraterna e Oração
A Palavra de Deus, neste Domingo, pode ser desenvolvida,como meditação, refletindo sobre dois aspectos importantes da vida cristã: a correção fraterna e a oração em família.
Diz Jesus:”Se teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo, mas em particular, a sós contigo”(Mt 18,15).Este primeiro momento demonstra o respeito e o amor para com o próximo. Muitas vezes acontece que se espalha o erro da pessoa aos quatro ventos… Esta atitude não é cristã! É necessário rezar, pedindo as luzes do Espírito Santo para saber quando se deve calar… quando se deve falar… e como falar…
Caso o irmão não queira ouvir, Jesus ensina que se deve pedir a ajuda de outras pessoas, que tenham sensibilidade cristã e sabedoria…
Não se trata de condenar, mas de fazer a correção fraterna para que se restabeleça o amor (cf. Mt. 18,15-20).O grande  critério é o amor mútuo(Rm 13,8-10) para que a comunhão se restabeleça.
Se essa tentativa também falhar, levar o assunto à Igreja (Comunidade) para recordar à pessoa que errou as exigências do caminho cristão. Como se percebe, recomenda-se que fique tudo em casa…
O importante é colocar-se de acordo no bem. Deve sobressair o amor fraterno, o ágape,pois, “não fiqueis devendo nada a ninguém, a não ser o amor mútuo, pois quem ama o próximo está cumprindo a lei”(Rm 13,8).
É importante observar o valor da oração em comunidade, em família.
“Se dois estiverem de acordo na terra sobre qualquer coisa que quiserem pedir, isso lhes será concedido por meu Pai que está nos Céus. Pois, onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, Eu estarei no meio deles”(Mt. 18,19-20).
A Igreja viveu desde sempre a prática da oração em comum (cf. At. 12,5).De modo particular, é muito agradável ao Senhor a oração que a família faz em comum!
“A oração familiar, ensina o Beato João Paulo II, tem como conteúdo original a própria vida de família: alegria e dores, esperanças e tristezas, nascimento e festas de anos, aniversário de casamento dos pais, partidas, ausências e regressos, escolhas importantes e decisivas, a morte de pessoas queridas, etc., assinalam a intervenção do amor de Deus na história da família, assim como devem marcar o momento favorável para a ação de graças, para a súplica, para o abandono confiante da família ao Pai comum que está nos Céus. A dignidade e a responsabilidade da família cristã, como Igreja doméstica, só podem ser vividas com a ajuda incessante de Deus, que será concedida, sem falta, a todos os que a implorarem com humildade e confiante na oração.” (Exortação Apostólica Familiaris Consortio, 59).
A oração em comum comunica uma particular fortaleza a toda a família, pois fomenta o sentido sobrenatural, que permite compreender o que acontece ao nosso redor e no seio do lar, e nos ensina a ver que nada é alheio aos planos de Deus: Ele se mostra sempre como um Pai que nos diz que a família é mais sua do que nossa!
“Onde há caridade e amor, ali está Deus”. Quando nós, cristãos, nos reunimos para orar, Cristo encontra-se entre nós.Ele escuta com prazer essa oração alicerçada na unidade.Assim faziam também os Apóstolos:”Perseveravam unanimemente na oração, juntamente com as mulheres,  entre elas Maria, a mãe de Jesus, e os irmãos dele”(At 1,14). Era a nova família de Cristo.
Em família, no mês da Bíblia e sempre, intensificar a leitura orante da Bíblia.
Outra fórmula de oração, que é um belo ato de piedade e de oração familiar, por excelência, é o terço.Ensina o Beato João Paulo II:”A família cristã encontra-se e consolida a sua  identidade na oração. Esforçai-vos por dispor todos os dias de um tempo para dedicá-lo juntos a falar com o Senhor e a escutar a sua voz.Que bonito quando numa família se reza, ao anoitecer, nem que seja uma só parte do Rosário!Uma família que reza unida permanece unida, uma família que ora é uma família que se salva.
Comportai-vos de tal maneira que as vossas casas sejam lugares de fé cristã e de virtude, mediante a oração em comum”.
“Estarei no meio deles”, diz Jesus.Tratando-se da correção fraterna através dos meios indicados por Jesus, quando a mesma não for possível, ainda poderá ser possível pela Oração, feita em comum, em nome de Jesus.
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“Correção Fraterna” – Claudinei M. Oliveira

Domingo, 04 de Setembro de 2011.
Evangelho – Mt   18, 15-20

            O amor de Deus para com seu povo é cheio de ternura e aconchego. Não permite que haja divisão e desentendimento entre as pessoas. Pede incansavelmente  que aja paz e entendimento na grande comunidade do povo fiel. Porque a unidade entre os cristãos deve perpassar a esfera da cordialidade, do cumprimento, da política da boa vizinhança, e enaltecer no  entrelaçar da comunhão fraterna, doar-se um para o outro  na essência da libertação como Jesus pregou.
            Neste domingo, dia do Senhor, momento de encontrar com Deus no Templo, rezar e agradecer pelas bênçãos recebidas, também é o momento de pedir perdão pelas faltas cometidas e reconciliar com o irmão que por má sorte houve desentendimento. No coração do homem não pode haver mancha que compromete a animação da fé. No coração do homem não pode haver mancha que impeça a ação do espírito santo. No coração do homem não pode prevalecer a maldade, o ódio, o rancor, a discórdia, a cobiça e o desejo de que o outro não alcance a Deus. Deve celebrar no domingo de coração aberto e limpo a festa da ressurreição, a encarnação do Verbo, a vitória do povo escolhido  e a páscoa nova cheia de encanto para uma nova vida. Para tanto,  o espírito santo  acolhedor age no coração e no pensamento do cristão sedento por justiça que saiba reconhecer no outro a bondade divina.
            Somos filhos e filhas de Deus. Não somos perfeitos. Temos erros grosseiros e as vezes até sutil por querer prevalecer a nossa idéia. Tanto magoamos o irmão como também sentimos magoados. Portanto, não devemos nos fechar no mundo construído por nós e afastarmos da realidade ou do nosso irmão que nos ofendeu. Não podemos carregar mágoa no dia-a-dia. Isso impede o encontro com Deus. Devemos procurar  o irmão e cheio de misericórdia pedir desculpas ou o perdão. Jesus pede que sejamos humildes para com o outro e procuramos a reconciliação fraterna.
            Contudo, nada de escândalo. Não devemos expor o outro. Devemos ser discreto com o irmão. Procurá-lo a sós e   colocar as cartas à mesa. Expressar as angustia e as tristezas. Mostrar o erro e motivá-lo para a comunhão com Deus e com a comunidade. Neste gesto respeitoso e de confiança levar uma reflexão apaixonante. Significa o senso da justiça. Aproximar o outro para um diálogo da paz e da verdade.
            Pode ser que o irmão não convença do dialogo. Isto pode acontecer. O ódio e o rancor perfazem o coração da pessoa. Não permite que se abra para ouvir e tomar novas decisões com atitudes corretas. Endurece o peito diante de uma proposta que poderia libertar de tantas ruindades. Mas prefere continuar no erro  pela ignorância.
            Então com testemunhas capazes de ouvir e dar opiniões que leve o irmão a repensar sua decisão é a segunda alternativa. Todos os meios devem ser esgotados para que não   ridicularize a situação. Diante de outra pessoa o convencimento pode ser relevante. Deus prepara as pessoas para o encontro. Nada acontece por acaso. A ação de nosso Pai leva a atitudes de magnitude  exaltante. Ele nos surpreende e nos quer o bem.
            Mas nem tudo acontece como gostaríamos. Pode ser que nosso irmão não convença do erro mesmo diante das testemunhas. Cabe então levá-lo  para comunidade. Colocar a situação para todos de modo respeitoso na esperança de ser ouvido e convencido de que a melhor atitude é refazer novas alianças. Mesmo assim não reconhecer o erro. Deixe-o como pagão ou como um cobrador de impostos. Vejam que as possibilidades foram abertas, não aceitou a correção fraterna.
            Mesmo quando chegar a última instancia e não há acordo não devemos desistir do irmão. Sempre há uma esperança. O espírito santo santificar pode agir em outro momento e a alegria de Deus se completará. A grande comunidade de Deus se torna vibrante quando todos se dão as mãos numa corrente leal para com todos. Sem distinção de interesses e numa só ação vivifica ainda mais o Reino de Deus construído pelos homens de boa vontade.
            O nosso pai não quer que ninguém se perca. Todo o esforço é para a cordialidade e centralizar no Deus-Unidade a fé no intuito de buscar a glória para todos.  Pois a igreja terrena uni-se com o Céu numa mesma sintonia. As decisões tomadas pela igreja é  o mesmo legado deixado a Pedro: Em verdade vos digo, tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu. Mas para que isto aconteça deve atentar-se para a doutrina da igreja e zelar pelo bem de todos. Caso uma ovelha desgarre do seu rebanho, o pastor deve deixar as outras unidas e partir em busca daquela que se perdeu. O zelo  deve ser maior. A atenção deve ser redobrada para a ovelha perdida. Quem sabe precisa de ajuda? Quem sabe algo de ruim aconteceu com a mesma?
            Entretanto, o senso da fraternidade ainda deixa muito a desejar em nossa igreja. Omitimos ajudar o nosso irmão por pequenas falhas. Abandonamos alguém por capricho de não saber ouvir a sua idéia. Dobramos os joelhos diante do Santíssimo; rezamos impiedosamente, mas não passa de ações vazias; não preenche a totalidade do ser com a mensagem de Cristo; não ouvimos o apelo de Jesus: Eu vos digo: se dois de vós estiverem de acordo, na terra, sobre qualquer coisa que quiserem pedir, meu Pai que está nos céus o concederá. Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou ali, no meio deles."  Deus está presente em tudo que pensamos e fazemos. Não temos como esconder Dele. Ao reunimos como igreja devemos agir como igreja de Cristo libertador. Fazer justiça e construir um Reino de Deus aqui na Terra com irmãos na mesma fé e na mesma unidade. Assim, a Palavra  de Deus pode ajustar os desentendimento entre os irmãos.
            Portanto, cresçamos na fé de nosso Pai e buscamos o entendimento real para podermos comungar a Eucaristia. Assim, fortalecido com o Corpo e Sangue de Cristo a caminhada da justiça será mais agradável entre os irmãos. Amém!
-- 
Claudinei M. de Oliveira
Tenha a Paz de Cristo em seu Coração!

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Correção fraterna
Nossa meditação da Palavra do Senhor neste domingo pode ser desenvolvida em cinco afirmações. Ei-las:
(1) Cristo está presente na sua Igreja; jamais a deixará, “pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou aí, no meio deles”. Quantas vezes tal afirmação foi distorcida como se bastasse que uns quatro gatos pingados se reunissem com a Bíblia e aí estaria Jesus. Nada disso! O sentido é exatamente o contrário. Aqui, neste capítulo 18 de Mateus, Jesus está falando sobre a vida da Igreja, comunidade que ele fundou e entregou aos apóstolos, tendo Pedro por chefe. Os dois ou três aos quais se refere o Senhor são os líderes da comunidade que vão decidir a questão do irmão que não quer ouvir os outros e divide a comunidade! O que a Igreja liga ou desliga na terra – e são os pastores (os bispos com o papa) que têm, em última análise, essa responsabilidade – o Senhor ratifica no céu: “Em verdade vos digo, tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra, será desligado no céu!” A autoridade que Cristo deu a Pedro de um modo todo especial, deu-a, aos demais Bispos, os pastores autênticos da sua Igreja, em comunhão com Pedro. Pois bem, onde dois ou três, como Igreja, estiverem reunidos em nome do Senhor, ele estará ali, ratificando suas decisões. Que fique claro: não se pode agradar a Cristo, ser-lhe fiel, rompendo com a sua Igreja! Ela, por mais que seja frágil por causa da nossa fragilidade, é a Comunidade que o Senhor reuniu, sustenta e na qual se faz presente atuante!
(2) Essa Igreja é uma comunidade de amor. O amor cristão não é simplesmente amizade ou simpatia humana, mas o fruto da presença do próprio Espírito de Amor, o Espírito Santo em nós: “O amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito que nos foi dado!” (Rm. 5,5) É desse amor que fala São Paulo no capítulo 13 da Primeira Carta aos Coríntios; é esse amor que “cobre uma multidão de pecados” (Tg. 5,20), é esse amor que é “a plenitude da Lei”. Só ama assim quem se abre para o amor de Cristo, deixando-se guiar e impregnar pelo seu Espírito de amor! Ora, caríssimos, a Igreja deve ser o ambiente impregnado desse amor, mais forte que nossas diferenças de temperamento, de opiniões, de modo de agir... Onde está o amor, a caridade, Deus aí está; onde o amor reina, o Reino de Deus está presente neste mundo! A Igreja deve ser o lugar do amor, lugar do Reino!
(3) Essa comunidade de amor é comunidade de compromisso, de responsabilidade no seguimento de Cristo. Por isso, não se pode usar o amor para acobertar a covardia, a tibieza, a frieza para com o Senhor e os irmãos e os demandos na comunidade! O amor é exigente: “O amor de Cristo nos impele” (cf. 2Cor. 5,14). A infidelidade ao amor a Cristo e aos irmãos é, precisamente, o pecado, que gera a divisão, a desunião, que faz sangrar a Igreja. Por isso Jesus nos exorta à correção fraterna, desde aquela simples, feita entre irmãos, até a correção formal e mais solene, feita pelo bispo ou até mesmo pelo papa, como chefe supremo da Igreja de Cristo neste mundo: “Se o teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo; se ele não te ouvir, toma contigo mais uma ou duas pessoas; se ele não der ouvido, dize-o à Igreja”. Muitas vezes, vê-se confundir amor e misericórdia com a covardia ou o comodismo de não corrigir. Ora, caríssimos, a correção é um modo de amar, é um modo de preocupar-se com o outro e com a comunidade que é ferida pelo pecado e o mau exemplo. A correção pode salvar o irmão. Quantos escândalos nas nossas comunidades poderiam ter sido evitados se houvera a correção no momento oportuno e do modo discreto e sincero que Jesus nos recomenda. Isso vale para a Igreja menorzinha, que é nossa família doméstica, vale para o grupo do qual participamos, vale para a paróquia, a diocese e a Igreja universal (não a “do Reino de Deus”, mas a de Cristo!), espalhada por toda a terra. A omissão em corrigir é covardia, é falta de amor à comunidade que é a Igreja, é pecado de omissão e desatenção pelo irmão. Certamente, tal correção deverá ser feita sempre com amor, com discernimento, com caridade fraterna. São Bento, na sua Regra, dá um preceito encantador: “In tribulationem subvenire” – poderíamos traduzir assim: “socorrer na tribulação”. Mas, a palavra latina ésubvenire: vir por baixo, vir de baixo. Ou seja, socorrer sim, corrigir sim, mas com a humildade de quem vem por baixo para sustentar, amparar e ajudar, para salvar; não vem com a soberba de quem está por cima para massacrar! Corrigir, sim, mas como Deus, que em Jesus, veio por baixo, na pobreza do presépio e na humilhação da cruz! Aí a correção terá mais chance de surtir efeito!
(4) Na comunidade de amor às vezes pode ser necessária a punição. Pode ser que não surte efeito a correção fraterna; pode ser que aquele que é corrigido teime na sua dureza de propósito e repouse no erro. Jesus mesmo prevê tal possibilidade no Evangelho de hoje. E, então, o próprio Senhor exorta a que tal irmão seja punido. Que escândalo para a nossa mentalidade atual! O pobre do papa Bento XVI, antigo cardeal Ratzinger, sabe o quanto foi difamado porque teve que impor penalidades a teólogos ou outros irmãos que, após a correção, não se emendaram! A nossa tendência é somente recordar do Senhor as palavras que agradam! No entanto, a punição na Igreja não é pela vingança ou o desafogo, mas deverá ser sempre medicinal, isto é, para produzir o arrependimento e a correção, restabelecendo a paz na Comunidade e a salvação do irmão. Que os pais tenha a coragem de corrigir, os bispos e o santo Padre também. Aliás, de João Paulo II e Bento XVI, sabemos que a têm, graças a Deus!
(5) Qual o fruto de uma comunidade assim? A saúde fraterna: a alegria de viver como irmãos: “Se ele te ouvir, tu ganhaste o teu irmão!” Oh, que palavra tão doce: ganhar o irmão! Eis aqui o motivo último da correção fraterna! Pensemos bem: a Igreja não é um clube de amigos, mas uma família de irmãos em Cristo! É o amor do Senhor Jesus Cristo que nos une. A alegria da comunhão fraterna somente será experimentada na sinceridade das nossas relações. Correção, sim; crítica destrutiva, murmuração, difamação, não! Neste sentido, todos nós precisamos fazer um sério exame de consciência, seja em nível de família, como naquele de grupos e paróquias e, até mesmo, de Diocese!
São esses os aspectos que a Palavra de Deus nos põe hoje. Recordemos a exortação do Senhor pela boca de Ezequiel: se não corrigirmos o irmão e ele morrer no seu pecado, a culpa é nossa; se ele se corrigir, ganhamos o irmão: viveremos nós e viverá ele – eis a marca do Reino de Deus neste mundo! Que ele aconteça em nossas comunidades!
dom Henrique Soares da Costa
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"Vós sois justo, Senhor, e justa é a vossa sentença;
tratai o vosso segundo a vossa misericórdia" (cf. Sl. 118,137.124).
Refletimos na liturgia de hoje a “Igreja, comunidade de salvação”. O profeta é o homem que enxerga por cima dos telhados, que tem uma visão de conjunto da realidade eclesial, é aquele que faz uma análise das coisas certas e das coisas erradas, anunciando a vontade de Deus, o hoje da salvação.
O profeta enxerga o lado interior das coisas, principalmente as coisas surpresas e as maldades dos corações.
O profeta é uma sentinela, que deve dar o alerta se enxergar algo suspeito no comportamento dos fiéis e na caminhada da comunidade. É o profeta que faz com que a comunidade volte para o caminho da verdade, da salvação e da fraternidade.
A primeira leitura tirada do livro de Ezequiel (33,7-9) nos adverte que como cristãos, temos todos responsabilidades uns para com os outros. Somos sentinelas da fidelidade para com Deus e para com o próximo.  Os profetas eram sentinelas em Israel; deviam dar alerta, e o fizeram. Mas o povo não prestou atenção. Veio a catástrofe – exílio. Sobra um pequeno resto. Ainda assim precisa de sentinela, de alguém que lhe avise para mudar seu caminho. E aí da sentinela que não cumprir seu dever: ela é responsável pela perda do irmão.
Irmãos e Irmãs, Jesus hoje nos ensina como deve ser o comportamento cristão diante do pecador, de quem peca, de cada um dos irmãos, que pecamos quotidianamente, na caminhada para a santidade.
Jesus nos adverte que a lei fundamental do cristianismo é a lei do amor, que tudo perdoa, tudo acolhe, tudo ama. A correlação fraterna deve ser ditada pelo amor fraterno e pressupõe a correspondente humildade e compreensão da parte de quem corrige. O orgulhoso não tem autoridade para corrigir. O Evangelho fala da correção fraterna, penitência e oração comunitária (cf. Mt 18,15-20). A Igreja é ao mesmo tempo santa e pecadora. Na santidade de filhos de Deus, somos irmãos, responsáveis uns pelos outros, mesmo e, sobretudo, quando o pecado está destruindo esta santidade. Só em última instância, quando a preocupação do cristão individual ou da comunidade nada resolvem, a comunidade pode excluir o pecador, para o conscientizar de que ele já não está participando da santa comunhão eclesial.
A ovelha desgarrada é o pecador. Jesus se comporta diante do pecador de maneira diferente da dos homens: vai à sua procura com interesse e carinho e sente alegria em encontrar o pecador. Assim não foi com Zaqueu que desceu da árvore para atender ao apelo convocatório do Mestre que dizia que iria hospedar-se na sua casa, a casa de um pecador, anunciando que naquele dia a salvação havia entrado na sua casa. Jesus nos aponta o comportamento correto dos cristãos: o perdão e acolhida devem ser as maiores novidades do Novo Testamento. Mas amar, perdoar e acolher é uma tarefa árdua, às vezes inatingível, porque o orgulho e a auto-suficiência campeiam a mentalidade dos homens e das mulheres de nossos dias.
O perdão é difícil de entender e mais difícil de viver. O Antigo Testamento não conheceu o perdão gratuito. Foi Jesus quem o trouxe, anunciou e viveu pela primeira vez na sua própria vida. O Antigo Testamento ensinou a vingança, depois a lei de talião, olho por olho, dente por dente. Entretanto, Jesus no sermão da Montanha lembrou a norma jurídica e a declarou insuficiente e superada. Jesus virou a mesa dando um passo significativo, muito adiante do seu tempo e do tempo em que vivemos: Jesus instituiu o perdão gratuito, nunca olhando o tamanho da ofensa, mas dimensionando o tamanho superior da acolhida e do perdão. Se Deus no céu nos perdoa de todas as nossas infidelidades, quem seremos nós os homens para não acolher esta diretiva de perdão, perdoar hoje, amanhã e sempre. Voltar ao irmão que foi vilipendiado e abaixar-se se humilhando no perdão misericordioso. Os cristãos tem o grave dever de ser “os mensageiros da reconciliação”, os “mensageiros do perdão”. A Igreja, ao defender aos excluídos, deve ser a mensageira no mundo da mensagem evangélica e do mandato apostólico do perdão e da reconciliação. Jesus foi o próprio modelo de quem sabe perdoar gratuitamente. Mesmo na Cruz, depois de tanto vilipêndio, injustiças e traições ele suplicou: “Pai, perdoar-lhes, eles não sabem o que fazem”. E olhando para o ladrão arrependido, São Dimas exclamou: “Hoje mesmos estarás comigo no paraíso” (cf. Lc. 23,43), perdoando-lhe os seus pecados: “Os teus pecados te são perdoados” (cf. Lc. 7,48).
A repreensão tem o sentimento e o gosto do perdão. Tudo isso por que o pecado, mesmo cometido por uma só pessoa, tem sentido e significado comunitário. Por que isso? Porque se corrigirmos um irmão individualmente, depois se ele não aceita, é pedido que se chame a Igreja. Quando o Padre perdoa os pecados ele age em nome da Igreja, agindo em nome de um poder que foi a ela confiada em nome de Jesus Cristo. Dentro do cristianismo e repreensão já tem o gosto de perdão. Está, portanto, muito longe de certo sadismo que sentem alguns que vivem julgando todo mundo e se arrogam o direito de corrigir os da direita, os da esquerda e os de trás, bem como os da frente. A repreensão significa compreensão e coração dilatado para a abertura.
Nós cristãos formamos uma comunidade. “Igreja” significa comunidade de crentes. Por isso Jesus admitiu a possibilidade de duas ou mais pessoas terem de repreender, quando alguém errou e não quis ouvir em particular uma reprimenda. Jesus fala em “testemunhas” ao falar de correção. Ao falar em correção Jesus quis resguardar que a Igreja não se transformasse numa seita de pequenos, mesquinhas e puros, bem ao estilo dos judeus de então. Jesus não exclui, Jesus, ao contrário, acolhe.
Jesus não falou em nenhum momento em julgar. Ele apenas conjugou o verbo perdoar. O perdão necessita de recolhimento, de intimidade com o Senhor, de enxergar o hoje de Deus. A misericórdia de Deus ultrapassa todos os limites imagináveis da justiça e se expressou no sangue do Filho bendito, derramado na cruz para o perdão de nossos pecados, assim o nosso perdão, fundamentado no amor e embebido no sangue do Senhor deve ir além da justiça humana e muito, muito além das satisfações que nosso coração possa exigir.
Desenvolver o senso de justiça sem perdão não adianta. A justiça é apanágio da acolhida e do perdão.
A segunda leitura (cf. Rm. 13,8-10 nos ensina que Paulo, nas suas exortações resume a prática da vida cristã não ficar devendo nada aos outros senão a caridade, que é sempre insuficiente.
O amor é o pleno cumprimento da Lei. Na sua justiça, Deus dá a todos o que precisam: fundamentalmente, seu amor de Pai. Nós, para sermos justos, devemos também dar-nos mutuamente este dom, embora sempre ficaremos devendo. Toda a justiça está incluída nisso.
Pois a caridade é o resumo de tudo. Vamos nesta semana refletir e colocar em prática a caridade que é o resumo da liturgia de hoje. Se nos esforçamos pela caridade salvamos automaticamente todas as outras obrigações: “O amor é pleno cumprimento da lei” (cf. Rm. 23,8-10).
O verdadeiro amor não deixa as pessoas como são, com seus defeitos e as suas limitações. Amar um irmão significa ajudá-lo a crescer em todos os níveis, querer concretamente a sua libertação, daquilo que é defeituoso e mau, lutar por sua plena humanização. Corrigir é a grande obra de amor. Na correção fraterna o cristão faz largo uso do encorajamento. Corrigir o irmão para os caminhos de Deus é uma das maiores facetas da caridade.
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padre Wagner Augusto Portugal

Não fecheis o coração
Iniciamos o mês da Bíblia com o tema da correção fraterna. Em todas as leituras de hoje, a palavra de Deus vem insistir que somos responsáveis uns pelos outros e devemos ser um suporte para os fracos, indecisos, tíbios, apáticos na fé e no seguimento de Jesus.
Pouquíssimas pessoas têm coragem de advertir alguém que está errado. É mais fácil condenar, humilhar, fofocar ou ser indiferente. Mas a Bíblia afirma e reafirma a responsabilidade de uns para com os outros. Deus nos pedirá contas da vida de nossos irmãos e irmãs. Por isso, hoje, quando ouvirmos a sua voz, não endureçamos nosso coração.
Evangelho (Mt. 18,15-20)
Se ele te ouvir, terás ganho teu irmão
O texto do evangelho de hoje situa-se no contexto do “sermão sobre a comunidade”, cujos textos são direcionados especificamente para orientar a vida na Igreja. E um tema muito precioso para o Evangelho de Mateus é a correção fraterna, essencial para o crescimento pessoal do cristão na comunidade.
O evangelho nos orienta no delicado passo da correção fraterna. Primeiramente devemos tomar consciência de que o ato de corrigir o irmão é nossa responsabilidade. O texto é claro: “Vai!” É um imperativo que nos interpela. A não realização desse mandato significa erro grave, pois nos omitimos diante do erro do outro, deixando que um membro do corpo de Cristo permaneça no engano.
O texto nos apresenta a preocupação com o retorno à comunidade de quem se desligou pelo pecado. Por isso são empregados todos os recursos para a volta do irmão. É uma correção feita com respeito e amor. São oferecidas várias oportunidades para a conscientização sobre o erro. Primeiramente a exortação pessoal, para preservá-lo de constrangimento diante da comunidade. Depois, a exortação diante de algumas testemunhas; por fim, diante da comunidade, para que o irmão obstinado em sua má conduta reconheça, perante a autoridade da Igreja, a situação em que ele mesmo se colocou.
Todo esse procedimento nos ajuda a perceber o papel mediador da Igreja para ajudar um membro a sair do erro. Isso porque não caminhamos sozinhos, mas fazemos parte de um corpo, necessitamos uns dos outros para viver nossa fé.
Se levarmos a sério nossa responsabilidade para com nosso irmão, nossa ação de exortá-lo, de encaminhá-lo para o rumo certo, proporcionar-nos-á ganhar um irmão na caminhada de fé. Nossa maior preocupação deverá ser não apontar os erros dos nossos irmãos na comunidade, mas reconduzi-los de volta à comunhão com Deus expressa na comunidade crente. Se fizermos isso, certamente a Igreja desempenhará bem seu papel de mediação da boa-nova de Jesus Cristo.
1ª leitura (Ez. 33,7-9)
Perdoa ao teu irmão
O profeta é não apenas o porta-voz de Deus, mas também uma sentinela para o povo. A sentinela era alguém que estava de prontidão, que permanecia acordado enquanto todos dormiam. Era alguém que percebia a aproximação de um inimigo ou de um viajante noturno aos portões da aldeia. Esse simbolismo nos ajuda a ver nossa responsabilidade perante as pessoas com as quais convivemos em casa, no trabalho, na vizinhança, nos círculos de amizade, na Igreja. Devemos estar atentos aos outros: perceber se estão em perigo, se correm algum risco de pôr a si mesmo ou outras pessoas em perigo.
A expressão bíblica “exigir o preço do sangue” significa ser responsável pelo outro. Deus exige que não sejamos omissos, que não deixemos as pessoas seguir para um precipício sem alertá-las – com bondade e compaixão, sem condenar nem humilhar – sobre a necessidade de mudança de atitude.
Em todo caso, deve-se respeitar o livre-arbítrio de quem é adulto e responsável pelos próprios atos, mas somente depois de ter sido tentado tudo o que é humanamente possível para o bem do próximo.
2ª leitura (Rm. 13,8-10)
Quem ama o próximo cumpriu toda a Lei
Os preceitos da Lei de Deus sobre as relações humanas culminam no amor mútuo. O “amor não pratica o mal contra o próximo” e também não quer o mal para os outros. O fato de alguém não fazer nenhum ato de maldade não significa que possa ficar confortável, dizendo a si mesmo: “Não roubei, não matei, logo sou bom para meu próximo”. Quem não pratica o mal, mas se omite ou negligencia a responsabilidade pelo outro, não ama verdadeiramente o seu próximo. Responsáveis que somos por nossos semelhantes, não devemos ficar no comodismo, mas ajudá-los a ser alguém melhor.
Pistas para reflexão
É oportuno lembrar serem vários os motivos da omissão, os quais geralmente envolvem medo ou frieza de coração. Temos receio de advertir alguém e ser repelidos, perder a popularidade ou ser tachados de intransigentes. Por isso é mais fácil “lavar as mãos”, como fez Pilatos, e dizer: “Eu não tenho nada a ver com isso”. Não deixemos que nosso coração fique endurecido diante do clamor silencioso de quem está envolvido numa teia de erros e não consegue sair sozinho dessa armadilha. É mais fácil julgar-se superior, murmurar, fofocar, condenar quem caiu ou está em perigo de queda.
Comecemos este mês da Bíblia formando uma consciência de “povo de Deus”, todos unidos como irmãos e irmãs da mesma família, responsáveis uns pelos outros. Se alguém se desviou do caminho, vamos ao seu encontro e insistamos para que retorne. E, caso não queira nos ouvir, não desistamos: oremos para que Deus mesmo o reconduza. Somente não endureçamos nosso coração.
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A caridosa correção fraterna
Tema belo e delicado esse da correção fraterna! Gesto de delicadeza de amor! Quanto a dizer e quanta dificuldade em colocar as palavras apropriadas.
Antes de mais nada deve ficar claro em nossas mentes: o Senhor Deus nos corrige e a correção que nos faz é sinal de um imenso amor. Queremos ser dele e não o somos totalmente. Nas encruzilhadas de nossas vidas chegamos mesmo a pecar e a pecar gravemente. Por vezes instala-se em nós o torpor do tédio. Não temos mais o fogo do discípulo. Somos frios e mornos. Quase pecamos ou pecamos sem quase. O Senhor faz como que nos espetar com um sofrimento e o alegre arrependimento. Ele nos recebe de volta no seio da Igreja. Importante  chegar no albergue do amor e receber, na Igreja, o perdão. Aqueles que o Senhor corrige voltam alegre para o casa do amor. Recebem ali o sacramento da reconciliação.
Mateus coloca algumas regras para a correção do irmão que erra. Primeiramente será preciso corrigi-lo em particular. Conversar com calma e tentar refazer o tecido da convivência carinhosa que foi  rompido. Há essas ofensas pessoais, há esses enganos, há tomadas de posição que alguém vem a tomar contra nós num momento de inveja, de fraqueza. O esclarecimento em particular pode tudo resolver. O amor cobre as ofensas.
Há certos desentendimentos familiares entre os sogros e genros e noras, entre cunhadas e assim por diante. Sim, a família é um terreno muito propício para a floração dos  desentendimentos.  Alguns deles podem ser de tal monta que redundem na negação da palavra entre familiares.
Se, em particular não se pode resolver será preciso fazer apelo a concurso de outras pessoas mais habilidosas e jeitosas. Mateus fala de tomar duas pessoas.
No caso de assuntos da comunidade cristã uma vez que tenham se esgotadas todas as possibilidades será necessário “dizer à Igreja”. Quando escândalos são colocados e os cristãos perdem a sensibilidade e não aceitam a correção dos irmãos será preciso dizer o “pecado”  à Igreja.
Não posso me privar ao prazer de transcrever essas  poucas linhas do Missa Dominical da Paulus: “O verdadeiro perdão, o perdão autêntico, não deixa as pessoas como são, com seus defeitos e suas limitações. Amar um irmão significa ajuda-lo a “crescer” em todos os níveis, querer concretamente sua “libertação” daquilo que é defeituoso e mau, lutar por sua própria humanização. Por isso, corrigir é obra de amor, nunca é extinguir energias e entusiasmos; é coisa muito diferente da crítica. Juntamente com a correção fraterna, o cristão faz largo uso do encorajamento. As pessoas esperam dos outro algo diferente do dom material; espera que outros se lhes tornem próximos, que entrem em contato com elas, percebem que elas existem, e lhes digam tudo isso.  Nada é tão encorajador como a atenção vigilante, o respeito não puramente formal, a palavra inesperada de congratulação, se não forem fórmulas vazias de rito ou expressões convencionais. O encorajamento, como correção, é uma das muitas facetas da caridade” (p. 794).
frei Almir Ribeiro Guimaeães
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A Igreja,comunidade de salvação
O profeta é o homem que enxerga, melhor que os outros, a vontade de
Deus. O profeta olha para o lado interior das coisas. É uma sentinela, deve dar alerta ao enxergar algo suspeito. Sua visão é uma responsabilidade. Se vê o errado, mas fica calado, ele deixa seu irmão perder-se e perde-se com ele. Mas se transmite o recado, a responsabilidade está com o outro, e o profeta se salva (Ez. 33,7-9; 1ª leitura).
A Igreja é um povo profético. A partir de nossa unção batismal e crismal, todos nós participamos da vocação profética do Cristo, legada à Igreja. No Sermão Eclesial de Mt 18 (evangelho) aparece também nossa tarefa de sermos sentinelas. A cada suspeita, devemos dar alerta, advertir o irmão que não está no caminho certo. E isso, não uma só vez: devemos esgotar todos os meios. Avisá-lo uma segunda vez, diante de testemunhas (para ver se não estamos enganados), ou, enfim, recorrer ao testemunho da comunidade. Se então ainda não quiser ouvir, seja “como gentio ou publicano”, expressão judaica tradicional designando quem não cabe na assembléia. Nesta altura, o poder de ligar e desligar, antes confiado representativamente a Pedro (cf. 21° dom. comum), é confiado à Igreja toda. Pois toda ela é responsável pelo caminho da salvação de todos. Todos nós devemos fazer o que for preciso para encaminhar nossos irmãos no caminho certo.
Mt. 18 mostra a importância da comunidade eclesial. Esta aparece ainda na palavra de Jesus sobre a oração comunitária (Mt. 18,19s): quando estamos reunidos no nome de Jesus e unânimes dirigimos nossos pedidos a Deus, ele nos atenderá como se fôssemos Jesus mesmo: pois Jesus está no nosso meio. Nós realizamos Jesus, em nossa comunhão. A Igreja se apresenta, na liturgia de hoje, como comunidade de salvação, no sentido sacramental: ela representa, torna presente o Salvador que nos une com Deus.Como? Pela comunhão eclesial! A missão de Cristo era, fundamentalmente, realizar a comunhão de todos os que são filhos do mesmo Pai, realizar o amor do Pai no meio de nós. Onde nós, em comunhão fraterna, realizamos isso, aí realizamos o próprio Cristo.
A verdadeira comunidade eclesial é o sacramento de Cristo e de Deus. Portanto, o texto do evangelho de hoje não se deve entender num sentido jurídico, mas num sentido eclesial, comunitário e, assim, verdadeiramente místico. Por exemplo, com relação à correção fraterna, Jesus não quer dizer que basta chamar duas testemunhas e depois uma comissão eclesiástica toda esclerosada, para enfim excomungar o acusado (pois é muito provável que não se converterá à vista de tal comissão). Jesus nos ensina a colocar, profeticamente, os que erram diante da comunidade que brotou do amor de Cristo. Então, se mesmo diante deste testemunho a palavra profética não “pega”, também não podemos fazer mais nada.
Na 2ª leitura ouvimos como Paulo, nas suas exortações finais aos romanos, resume a prática da vida cristã: não ficar devendo nada aos outros, senão a caridade, que sempre fica em dívida (o que não significa que não precisamos fazer o possível...). A caridade é o resumo de tudo. Se nos esforçamos por ela, saldamos automaticamente todas as outras obrigações. “O amor é o pleno cumprimento da Lei” (Rm. 13,8-10). Paulo comenta aqui, à sua maneira, uma palavra do Senhor Jesus (cf. Mt. 22,34ss = Mc. l2,28ss = Lc. 10,25ss; cf. Gl. 5,14). E sendo poucas as palavras de Jesus que Paulo cita assim, isso significa que ele a considera como algo central na mensagem cristã. Também S. Tiago a cita, na sua carta (Tg. 2,8). E S. João não faz outra coisa senão comentar este “preceito único” do amor ao próximo, pois ninguém pode amar Deus sem amar o próximo (1Jo 4,20!), e só se ama bem ao próximo quando se ama a Deus. Pois amar Deus, procurar Deus, significa procurar a ultima palavra sobre o que é certo e errado, escutando a voz absoluta daquele que ama o nosso irmão como nós o deveríamos amar também.
Assim, o espírito da liturgia de hoje evidencia a comunhão e a caridade fraterna na comunidade eclesial, não só na mútua amizade (cf. oração sobre as oferendas), mas também na oração (evangelho) e na caridosa advertência (1ª leitura, salmo responsorial, evangelho). Nisto, a Igreja realiza a união com Cristo para sempre (oração final) e se torna comunidade e sacramento de Salvação.
Johan Konings "Liturgia dominical"
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Correção fraterna

1. Este vigésimo terceiro domingo do tempo comum fica perto do Grito dos excluídos. É bom, então, trazer por dentro da nossa liturgia o grito de todas as pessoas injustiçadas da nossa cidade, o grito dos pobres que no mundo todo sofrem as conseqüências da desigualdade, o grito lancinante de tantas pessoas deixadas de lado, não consideradas na hora da partilha. É este mundo de pessoas excluídas que necessitam escutar uma Palavra de salvação, a palavra de Jesus que nos convida a participar para a realização de um mundo diferente, um mundo aonde reina o amor e a justiça. Muitas vezes falamos disso, mas talvez nem sempre sabemos o sentido destas palavras tão abusadas no linguajar do dia a dia. As leituras de hoje vêm ao nosso encontro para nos ajudar a entender o caminho para realizar uma humanidade nova, uma humanidade sem excluídos.
2. “Se o teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo, mas em particular, a sós contigo!” (Mt. 18,15).
Se tem muitas pessoas aprontando pelo mundo afora talvez é porque nunca tiveram um pai, ou talvez nunca tiveram um amigo que os orientasse, os aconselhasse. Este é o sentido das palavras de Jesus no Evangelho de hoje. Um cristão é responsável do seu irmão, da sua irmã. Não vale o ditado que cada um faz o que quiser: esta é conversa mundana, sem nenhuma ligação com a vontade de Deus. Deus não criou o homem e a mulher para que cada um vivesse isolado, mas sim nos criou para aprendermos a viver juntos, em comunhão. Por isso se alguém de nós pecar, errar, devemos fazer de tudo para chegar até ele e conversar, ajudando-o a entrar em si mesmo e, assim, mudar de atitudes. A conversão, neste sentido, não é apenas o fruto do esforço pessoal, de uma tomada de consciência individual, mas sim o resultado de uma aproximação. Não podemos fechar os olhos perante as faltas, sobretudo se forem graves, dos nossos amigos. Este principio vale, sobretudo na vida da Igreja, que é feita não de santos, mas sim de pessoas em busca da perfeição. Ninguém se salva sozinho: este é o primeiro sentido da Igreja, ou seja, de uma comunidade de pessoas que fazem de tudo para se ajudar á sair da condição humana de pecado. Mais uma vez a palavra de Deus nos alerta sobre a nossa responsabilidade de irmãos de caminhada: a omissão é pecado, pois pode prejudicar a salvação de alguém. Por isso, devemos fazer de tudo para aconselhar as pessoas que caíram em situações ruins. Devemos também vencer a resistência deles para conseguirmos o arrependimento. No Evangelho Jesus mostra toda uma serie de passos que a comunidade deve realizar num caso como este. Mais uma vez, o pecado de uma pessoa, não é apenas um problema pessoal, mas envolve toda a comunidade. O ultimo gesto extremo consiste em expulsar o pecador da mesma comunidade. Talvez, uma leitura superficial, nos leva pensar que a punição é severa demais e, de uma certa forma é em contraste com o mandamento da caridade. Quem pensa isso é porque tem uma idéia distorcida da caridade, ou seja, do amor que vem de Deus. De fato, a caridade quer o bem do outro e não aceita de forma nenhuma o mal. Por isso a medida extrema da expulsão, como forma de provocar o arrependimento. Às vezes uma certa moleza que encontramos até em pastores que demoram de tomar atitudes firmes em situações como esta que Jesus descreve no Evangelho, podem ser interpretadas como fraqueza, devida a um certo envolvimento no pecado. A nossa moleza não pode ser critério de julgamento dos outros: em jogo é a salvação das pessoas.
Esta mesma idéia a encontramos também no texto de Ezequiel, na primeira leitura de hoje. O ímpio deve ser alertado sobre as próprias impiedades, pois se ele morrer errando e ninguém da comunidade o alertou, nós mesmos seremos responsáveis da sua perdição.
Acreditar em Deus significa acreditar na comunhão trinitária e, por isso, o efeito desta fé é uma vida de comunhão e não de solidão. Deus mesmo, nas primeiras paginas da Bíblia disse que não era bom para o homem viver só. Sair do isolamento de uma vida egoística rumo uma comunhão efetiva com as pessoas que moram perto de nós, é talvez o primeiro fruto da fé em Deus.
3. “Onde dois ou três estiverem reunidos no meu nome eu estou ai, no meio deles” (Mt. 18, 20).
É de grande conforto ter a certeza da presença do Senhor na nossa vida. É verdade que, come Jesus nos aconselha num outro contexto, podemos encontrar a Deus entrando no nosso quarto e falar a sos com ele. A verdade, porém, do nosso relacionamento pessoal com Deus, está exatamente na nossa maneira de nos relacionarmos com os irmãos. Se prestarmos atenção perceberemos que nos momentos em que partilhamos a Palavra de Deus na comunidade, ou em família, ou com amigos, são os momentos de maior crescimento no conhecimento pessoal e, também, do conhecimento dos outros. De fato, é na partilha da nossa vida espiritual que alcançamos os momentos mais elevados do conhecimento interpessoal. Além disso, o versículo que estamos comentando contem uma outra sugestão de grande importância pela nossa via espiritual. Jesus de uma certa forma, com estas palavras, está nos alertando sobre o tipo de conversa que tecemos com as pessoas. Existe só um tipo de conversa na qual o Senhor entra no meio e se faz presente: o dialogo aonde tem Ele como protagonista. Isso deveria nos servir de alerta para policiarmos os nossos diálogos corriqueiros recheados de conteúdos materiais, que não tem muito a ver com Deus e a sua Palavra. O Senhor quer caminhar conosco, só que isso exige uma mudança de atitudes que envolvem até a nossa maneira de dialogar com os irmãos. O sentimento profundo que temos de Deus deveria envolver os nossos amigos, parentes, colegas na conversa que seja do nosso agrado. A final de conta se Deus e a sua Palavra para nós são verdadeiramente importante a ponto de desejar sentir a sua presença consoladora, devemos aprender a puxar a conversa nas coisas de Deus. Deus transformou o mundo encarnando-se na historia com o Seu Filho Jesus. Existe um caminho de encarnação que passa também através da nossa linguagem, do dialogo cotidiano no qual deveria se tornar normal trazer por dentro dele o Senhor e a sua presença. Pedimos a Deus que nos ajude ao longo desta semana a trazê-lo sempre mais presente na nossa vida.
padre Paolo Cugini

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Uma comunidade profética e profetizada
Quem são os profetas? Costumamos imaginá-los em um degrau acima de nós dizendo com voz forte o que devemos fazer. Mas, isto não é correto. Na comunidade cristã somos todos profetas e, ao mesmo tempo, destinatários da profecia. Isto é, a comunidade cristã não está dividida entre os poucos - que estão acima -, que dizem aos demais aquilo que devem fazer, e outros, a maioria, que está abaixo e obedece. O evangelho de hoje nos fala de uma comunidade que compartilha do mesmo Espírito. Os discípulos participam em igualdade de condições do culto ("onde dois ou três se encontram reunidos em meu nome..."), da oração ("se dois de vocês puserem-se de acordo na terra para pedir algo..."), da tomada de decisões (“tudo aquilo que unirem na terra será unido no céu..."), e na correção fraterna ("se teu irmão pecar, repreende-o a sós..."). O profetismo é, portanto, responsabilidade da comunidade e de cada um de seus membros. A profecia não é exclusividade de nenhuma pessoa na comunidade. Mas, para ser cristã, essa profecia deve levar em conta dois aspectos muito importantes.
Antes de tudo, a comunidade profética é, ao mesmo tempo, a primeira receptara dessa profecia. E isso nos deve fazer humildes. A palavra profética, a correção, nos guia para crescermos como indivíduos e como comunidade. Com humildade a ouvimos, acolhemos e tratamos de colocá-la em prática e, assim, transformar as nossas vidas para fazê-la crescer na cristandade. Inclusive, quando a profecia se dirige para fora da comunidade é, também, profecia humilde e restauradora, porque a comunidade conhece muito bem as suas limitações.
Em segundo lugar, a profecia não tem sentido se não for concretizada em um contexto de amor. Paulo nos diz na segunda leitura: "aquele que ama cumpriu o resto da lei" e "amar é cumprir a lei inteira". Profecia ou correção fraterna cabe apenas no contexto do amor: amor pelos irmãos e irmãs; amor pela humanidade; amor pela criação. O amor sempre cheio de compaixão e de misericórdia. No dia em que empregarmos a profecia contra algo ou alguém, não seremos profetas verdadeiramente e estaremos traindo o Espírito de Jesus.
Na minha comunidade, oferece-se a palavra a todos? São todos ouvidos da mesma maneira? Quando preciso dizer algo a um irmão, familiar ou amigo, eu o faço com a devida humildade e como fruto do meu amor por ele? Fiz uso alguma vez da correção ou da profecia para atacar alguém ou para me vingar?
Victor Hugo Oliveira
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Entre irmãos
No Evangelho de hoje Mateus relata o compromisso que cada um tem, como membro de uma comunidade cristã, diante da falha do “irmão”. Neste compromisso Jesus ensina a obrigação de corrigir o irmão que errou.
“A partir de nosso batismo e confirmação pelo crisma, todos nós participamos da vocação profética do Cristo”. Diante desta afirmação está a responsabilidade cristã pelo do erro do irmão. Se ele o comete e, como profeta do Cristo um irmão não vai ao seu encontro para ajudá-lo a reconciliar-se com o Pai, também ele é responsável pelo erro.
Esta correção deve acontecer assim: primeiro, é preciso conversar com ele em particular, indo à sua procura na qualidade de quem já perdoou, a fim de lhe mostrar o erro sem se achar superior a ele, e convidá-lo novamente a se reintegrar à comunidade; se não der resultado, deve contar com a ajuda de outros irmãos na tentativa de resgatá-lo; e, se por fim, ele continuar errando, o grupo, a comunidade deve agir para ajudá-lo.
Mas por que a comunidade? Não é cada um o responsável por si mesmo, pelo erro que cometeu? Sim, cada um é responsável pelos seus erros, mas Jesus confiou à Igreja, através de Pedro, a responsabilidade pelo caminho da salvação de todos, e sendo assim cabe a todos se ajudarem mutuamente.
A comunidade cristã não é feita de pessoas perfeitas, e nem sempre a atitude tomada diante dos erros dos outros é a mais adequada. Os erros não devem passar despercebidos, e nem devem ser tomadas atitudes erradas que não contribuam para a recuperação de quem erra como: espalhar o erro, fofocar, excluir a pessoa. Antes de condenar ou excluir é preciso conhecer a justiça do Reino, e ter consciência de que os passos aconselhados por Jesus não são normas rígidas e, sim, um modo de agir que têmpera de justiça as relações entre as pessoas. Em outras palavras, é preciso ser criativo no esforço de recuperar quem erra e se afasta da comunidade. E o espírito que anima essa tarefa não é o da exclusão, mas da busca para reintegrar. O próprio Cristo sempre demonstrou Sua especial atenção para com as “Ovelhas perdidas”.
Jesus dá algumas dicas que passam pela necessidade das pessoas se reunirem em nome d’Ele, a fim de, mediante a oração, chegarem a um consenso. Ele afirma que Deus acolhe os pedidos e os realiza àqueles que se reúnem e rezam na mesma intenção, e diz que estará sempre presente onde dois ou mais estiverem reunidos em Seu nome.
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Corrigir com discernimento
É preciso agir com extremo discernimento, quando se trata de afastar um membro da comunidade do convívio fraterno. Em geral, as lideranças da comunidade são tentadas a deixar-se levar por critérios irrelevantes, revelando-se injustos contra quem cometeu uma falta. Uma decisão deste porte não pode depender de preconceitos ou do que pensam os líderes. Importa somente fazer a vontade de Deus. A comunidade cristã deve rezar e refletir muito, antes de excomungar alguém. Sua decisão deve corresponder ao pensamento de Jesus. Por isso, é necessário evitar que a reunião onde se toma tal decisão se assemelhe a um tribunal onde se submete a pessoa a um juízo inclemente. O melhor lugar para se decidir isso é a assembléia eucarística. A ela se refere à afirmação do Senhor: "Onde dois ou três estão reunidos em meu nome, estou ali, no meio deles". Neste caso, trata-se de uma reunião bem específica, na qual a comunidade põe-se de acordo para pedir a luz divina, antes de decidir sobre a sorte do membro que errou. Se a comunidade pede com sinceridade, poderá estar certa de ser atendida pelo Pai. A decisão comunitária, se tomada seriamente, terá o aval de Deus. Ou seja, se o membro for desligado da comunidade terrestre, será também desligado da comunidade celeste. O Pai confirma o veredicto da comunidade que agiu com discernimento. Oração
Espírito de seriedade, livra-nos da leviandade e, afastar da comunidade os membros que erraram. Pelo contrário, que o façamos após a devida ponderação diante do Senhor.
padre Jaldemir Vitório
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Correção fraterna

Não é fácil exercer a correção fraterna. É bem mais fácil não se envolver, deixar as coisas como estão e evitar complicações. No entanto, a correção fraterna é um ato de puro amor. Ela expressa a vontade que alguém tem de ver o seu irmão feliz, bem realizado, no caminho certo e não envolvido em ilusões e entregue a alegrias passageiras e prejudiciais. É verdade que o bem, na existência humana, depende de cada um. O que é bom para mim pode não ser bom para o outro.
No entanto, o bem é como a verdade. Ele existe e é o que é, independentemente de opiniões ou gostos. Na prática, porém, as coisas são diferentes. Por isso, para mostrar o caminho certo a alguém é preciso olhar o mundo com os olhos desse alguém, descobrir os seus valores, perceber o que o impulsiona na vida.
Nesse sentido, a primeira e melhor correção fraterna é sempre a amizade gratuita. A presença silenciosa e constante, que não falta na hora do apuro ou da cabeçada, se faz com a força da graça, e é canal de graça para os necessitados.
A comunidade nos proporciona o aprendizado doloroso do amor prático. Mais do que as teorias, a vivência é que importa. No mútuo relacionamento que acontece na vida comunitária, nós nos tornamos sempre mais imagem e semelhança de Deus. Não pode haver cristão isolado que pratica sua religião sem laços de ligação com irmãos da mesma fé. Tal cristão se torna estéril, se enfraquece, se apaga e desaparece. É como a brasa isolada que se extingue. Que Deus nos dê disposição para manter os relacionamentos comunitários e para aceitar a correção.
Mt. 18,15-20 – São Mateus junta no capítulo 18 as orientações de Jesus sobre a vida comunitária dos cristãos. Há sempre problemas em nossos relacionamentos. Então, diz Jesus, converse em particular com o seu irmão. Se ele escutar o que você lhe disser, o caso está encerrado e a vida vai para frente. Se não, é bom que haja alguma testemunha do seu esforço e da sua boa vontade. Conversem em grupo. Se ele não aceitar a correção que os irmãos lhe oferecem, que o caso então seja levado a uma autoridade superior. A partir daí, ele já não poderá ser considerado um irmão no seguimento de Jesus. O esforço feito é visto por Deus, e a Igreja como um todo, unida a Pedro, tem o poder de ligar e desligar. É tão importante que tudo se resolva de forma comunitária, que Deus atende às preces feitas em conjunto por quem vive em comum acordo. Jesus está onde estão reunidos os irmãos de fé.
Ez. 33,7-9 – Deus dá ao profeta Ezequiel a difícil tarefa de advertir os seus irmãos de conduta inaceitável. Deus cobrará de Ezequiel qualquer omissão. É um serviço que ele deve prestar em nome de Deus a favor de seus irmãos que necessitam de correção.
Sl. 94 (95) − O salmista nos convida a ouvir hoje a voz do Senhor. Não fechar o coração nem deixar para amanhã. A advertência do Senhor acontece, de forma habitual, pela mediação humana. É preciso estar atento às inspirações do Espírito.
Rm. 13,8-10 – O amor é o cumprimento perfeito da Lei e não faz mal a ninguém. Portanto, toda correção fraterna, toda advertência relacionada a alguma falta de meu irmão, deve ser feita por amor. É a dívida que temos uns para com os outros, ensina são Paulo.
cônego Celso Pedro da Silva
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Jesus entre os discípulos
O evangelho de Mateus se caracteriza por ser uma apresentação de Jesus, suas palavras e seus feitos, adaptada às comunidades de discípulos que vieram do judaísmo. No texto do evangelho de hoje, Mateus insere algumas orientações sobre a correção fraterna em uma fala de Jesus sobre as regras de convívio nas comunidades. As orientações são apresentadas após a abordagem das questões da disputa pelo poder, do escândalo, e das defecções (Mt. 18,1-14). Assim, Mateus tem em vista manter a harmonia na comunidade. Em geral, há uma tendência de simplesmente excluir alguém que é considerado problemático. Conflitos, sensibilidades feridas e ofensas são comuns neste convívio. Contudo deve-se procurar superá-los com a mudança dos comportamentos que provocam estes conflitos, sem defecções. Com seu texto, Mateus desenvolve, para sua comunidade, um simples dito tradicional de Jesus, que será mencionado por Lucas. Em Lucas, de maneira singela, a questão envolve apenas duas pessoas, ficando em evidência a prática do perdão. Em Mateus temos a ampliação do dito colhido na tradição das primeiras comunidades, dando-lhe um caráter de regra de procedimento para suas comunidades. Existem semelhanças entre esta abordagem de Mateus e a prática da comunidade dos essênios de Qumran. Há autores que sugerem que Mateus sofre a influência desses essênios. Conforme Mateus, a prática do perdão, na comunidade, se dá em três estágios. O diálogo entre os dois irmãos envolvidos, a ampliação do diálogo envolvendo duas ou três testemunhas e, finalmente, a questão debatida pela igreja (comunidade). Percebe-se uma metodologia formalizada em regra. Hoje ela pode apenas inspirar uma prática do perdão e da reconciliação de uma maneira mais livre, espontânea e verdadeira. A correção fraterna, que brota do amor e do perdão, é fundamental para manter-se a unidade na comunidade.
No desfecho deste processo de correção fraterna apresentado por Mateus, parece discriminatória a rejeição final com a recomendação de que aquele que mesmo à igreja não ouvir, seja tratado como se fosse um pagão ou um publicano (coletor de impostos). É estranha esta recomendação, uma vez que o empenho de Jesus era conviver com estas publicanos e pagãos, tidos como pecadores. Percebe-se, assim, seria contraditório considerar que Levi, o publicano - coletor de impostos, também chamado Mateus, seja o autor deste texto. Mateus articula, em conclusão, três sentenças: uma sobre o poder de ligar e desligar na terra, relacionada à tradição do primado de Pedro, surgida a partir dos anos oitenta (cf. Mat. 16:19); outra destacando da importância de orar em comunidade e a terceira assegurando a presença de Jesus entre os discípulos reunidos e seu nome. Esta presença de Jesus entre os discípulos tem sentido especial no momento em que não mais existe o Templo onde se pretendia ter a presença de Deus. O emprego da palavra "reunidos" (sinagogain) indica a substituição da sinagoga pela comunidade. A presença de Deus, Jesus, se dá na comunidade que vive o amor misericordioso, vigilante para a reconciliação e a comunhão. "O amor é o cumprimento perfeito da Lei". A primeira leitura vai em uma perspectiva mais ampla. Trata-se da denúncia profética que deve ser feita do pecado existente nas estruturas sociais resultante da prática de pessoas injustas.
José Raimundo Oliva
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Correção fraterna

A primeira leitura de hoje compara a missão do profeta com a da sentinela. O profeta é um homem com uma sensibilidade espiritual muito aguda. Ele é o primeiro que percebe os caminhos através dos quais o Senhor quer conduzir o seu povo. É sempre ele o primeiro que se dá conta que determinados modos de pensar, determinadas experiências e determinadas escolhas não estão em conformidade com Deus. É seu dever, nesses casos, intervir, falar francamente, alertar aqueles que estão correndo o perigo de afastar-se de Deus. Se Ele não cumprir este seu dever, é responsável pela ruína dos seus irmãos. Se, ao contrário, adverte a quem está se comportando mal, mas este não atende, então ele não é culpado. Todos nós somos profetas, todos nós somos sentinelas, somos responsáveis, em parte, pelo destino dos nossos irmãos. Na segunda leitura de hoje, Paulo expõe um princípio geral que ajuda na solução de qualquer problema moral. Quando não sabemos qual a melhor atitude a ser tomada, quando não temos certeza sobre as escolhas a serem feitas, é preciso tomar como ponto de referência o mandamento do qual derivam todas as leis: “Ama o teu próximo como a ti mesmo”. O capítulo 18 do Evangelho de Mateus, foi escrito para responder aos problemas internos das comunidades cristãs. Nesse capítulo são expostas diversas orientações e prescritas algumas normas que tem por objetivo desenvolver o amor e favorecer a harmonia entre os membros da comunidade. O trecho de hoje enfrenta um destes problemas: que atitude tomar em relação a quem erra? A lei do amor com certeza obriga a um esforço para reconduzi-lo ao bom caminho; mas como proceder numa questão tão delicada? Há uma coisa que não deve ser feita: espalhar a notícia do erro cometido. A difamação pode destruir um homem: “um golpe de língua quebra os ossos” (Eclo 28,17), pode matar um irmão, pode arruinar uma família, pode destruir um casamento. A verdade que não produz amor, mas que provoca perturbação, que gera discórdias, ódios e rancores, não deve ser dita. Não se pode contar tudo o que é verdade, ou tudo aquilo que se conhece. Não se deve, especialmente, dizer a verdade para aqueles que dela querem se servir para o mal. Analisemos agora o caminho que Jesus propõe para dizer a verdade a um irmão que está em perigo de se perder, porque está cometendo erros. O caminho que se deve seguir inclui três etapas. Primeira: ir falar pessoalmente com o irmão. Se esta primeira tentativa não obtém resultado, o segundo passo é pedir ajuda a um ou dois irmãos da comunidade, que tenham sensibilidade e sabedoria. A última etapa é o apelo à comunidade. Isto somente pode acontecer nos casos nos quais a falta cometida seja um perigo de inquietação para todos os irmãos, especialmente para os mais fracos na fé. Este evangelista de fato faz questão de ressaltar que a Igreja não se compõe só de santos, mas também de pecadores, é um terreno onde crescem trigo e cizânia, é uma rede que apanha todos os tipos de peixes, é um banquete para o qual são convidados bons e maus. Com certeza a comunidade não tem o direito de expulsar um dos membros que se comporta mal somente pelo fato dela se sentir humilhada com a sua presença, pois a Igreja não é um grupo de pessoas sem pecados que exclui aqueles que erram. Por outro lado não se pode negar que a Igreja tenha o direito e até o dever de alertar e denunciar tudo o que for contrário ao Projeto de Deus. Porém, fazendo isso com muito amor e misericórdia para salvação daqueles que erraram. Pensando nesta reflexão de hoje, quantas vezes devemos perdoar? Estamos sendo fraternos em nossa comunidade?
A liturgia deste domingo sugere-nos uma reflexão sobre a nossa responsabilidade face aos irmãos que nos rodeiam. Afirma, claramente, que ninguém pode ficar indiferente diante daquilo que ameaça a vida e a felicidade de um irmão e que todos somos responsáveis uns pelos outros.
A primeira leitura fala-nos do profeta como uma “sentinela”, que Deus colocou a vigiar a cidade dos homens. Atento aos projetos de Deus e à realidade do mundo, o profeta apercebe-se daquilo que está a subverter os planos de Deus e a impedir a felicidade dos homens. Como sentinela responsável alerta, então, a comunidade para os perigos que a ameaçam.
O Evangelho deixa clara a nossa responsabilidade em ajudar cada irmão a tomar consciência dos seus erros. Trata-se de um dever que resulta do mandamento do amor. Jesus ensina, no entanto, que o caminho correto para atingir esse objetivo não passa pela humilhação ou pela condenação de quem falhou, mas pelo diálogo fraterno, leal, amigo, que revela ao irmão que a nossa intervenção resulta do amor. Na segunda leitura, Paulo convida os cristãos de Roma (e de todos os lugares e tempos) a colocar no centro da existência cristã o mandamento do amor. Trata-se de uma “dívida” que temos para com todos os nossos irmãos, e que nunca estará completamente saldada.
1ª leitura: Ez. 33,7-9 - Ambiente
Ezequiel é conhecido como “o profeta da esperança”. Desterrado na Babilônia desde 597 a.C. (no reinado de Joaquin, quando Nabucodonosor conquista Jerusalém pela primeira vez e deporta para a Babilônia a classe dirigente do país), Ezequiel exerce aí a sua missão profética entre os exilados judeus. A primeira fase do ministério de Ezequiel decorre entre 593 a.C. (data do seu chamamento) e 586 a.C. (data em que Jerusalém é arrasada pelas tropas de Nabucodonosor e uma segunda leva de exilados é encaminhada para a Babilônia). Nesta fase, Ezequiel procura destruir falsas esperanças e anuncia que, ao contrário do que pensam os exilados, o cativeiro está para durar… Eles não só não vão regressar a Jerusalém, mas os que ficaram em Jerusalém (e que continuam a multiplicar os pecados e as infidelidades) vão fazer companhia aos que já estão desterrados na Babilônia. A segunda fase do ministério de Ezequiel desenrola-se a partir de 586 a.C. e prolonga-se até cerca de 570 a.C. Instalados numa terra estrangeira, privados de templo, de sacerdócio e de culto, os exilados estão desesperados e duvidam da bondade e do amor de Deus. Nessa fase, Ezequiel procura alimentar a esperança dos exilados e transmitir ao Povo a certeza de que o Deus salvador e libertador – esse Deus que Israel descobriu na sua história – não os abandonou nem esqueceu.
Pelo conteúdo, não é possível dizer de forma clara se o texto que hoje nos é proposto como primeira leitura pertence à primeira ou à segunda fase da atividade profética de Ezequiel. Em qualquer caso, ele define – recorrendo à imagem da sentinela – a missão profética: o profeta é, entre os exilados, como uma sentinela atenta, que escuta os apelos de Deus e que avisa o Povo dos perigos que aparecem no horizonte da comunidade.
Mensagem
A imagem da sentinela aplicada ao profeta não é nova. Já Habacuc (cf. Hb. 2,1), Isaías (cf. 21,6), Jeremias (cf. Jer. 6,17) e mesmo Oseias (cf. Os. 5,8) recorrem a esta figura para definir a missão profética.
O que é que significa dizer que o profeta é uma “sentinela”? A sentinela é o vigilante atento que, enquanto os outros descansam, perscruta o horizonte e procura detectar o perigo que ameaça a sua cidade, os seus concidadãos, os seus camaradas de armas. Quando pressente o perigo, tem a obrigação de dar o alarme. Dessa forma, a comunidade poderá preparar-se para enfrentar o desafio que o inimigo lhe vai colocar. Se a sentinela não vigiar ou se não der o alarme, será responsável pela catástrofe que atingiu o seu Povo.
Assim é o profeta. Ele é esse guarda que Jahwéh colocou no meio da comunidade do Povo de Deus, para perscrutar atentamente o horizonte da história e da vida do Povo e para dar o alarme sempre que a comunidade corre riscos.
Para que o profeta seja uma sentinela eficiente, ele tem de ser, simultaneamente, um homem de Deus e um homem atento ao mundo que o rodeia.
O profeta é, antes de mais, um homem que Jahwéh chamou ao seu serviço. Eleito por Jahwéh, chamado para o serviço de Jahwéh, ele vive em comunhão com Deus; e nessa intimidade que vai criando com Deus, ele descobre a vontade de Deus e aprende a discernir os projetos que Deus tem para os homens e para o mundo. Ao mesmo tempo, o profeta é um homem do seu tempo, mergulhado na realidade e nos desafios da sociedade em que está integrado; conhece o mundo e é capaz de ler, numa perspectiva crítica, os problemas, os dramas e as infidelidades dos seus contemporâneos.
Ao contemplar os planos de Deus e a vida do mundo, o profeta dá-se conta do desfasamento entre uma realidade e outra. Apercebe-se de que a realidade da vida dos homens é muito diferente dessa realidade que Deus projetou.
Diante disto, o que é que o profeta faz? Sacode a água do capote e diz que não é nada com ele? Fecha-se no seu mundo cômodo e ignora as infidelidades dos homens aos projetos de Deus? Demite-se das suas responsabilidades e não se incomoda com as escolhas erradas que os seus irmãos fazem?
Não. O profeta recebeu um mandato de Deus para alertar a comunidade para os perigos que a ameaçam. Custe o que custar, doa a quem doer, o profeta tem que dizer a todos – mesmo que os seus concidadãos não o compreendam ou recusem escutá-lo – que continuar a trilhar esses caminhos errados não pode senão conduzir à infelicidade, ao sofrimento, à morte.
O profeta/sentinela é, em última análise, um sinal vivo – mais um – do amor de Jahwéh pelo seu Povo. É Deus que o chama, que o envia em missão, que lhe dá a coragem de testemunhar, que o apoia nos momentos de crise, de desilusão e de solidão… O profeta/sentinela é a prova de que Deus, cada dia, continua a oferecer ao seu Povo caminhos de salvação e de vida. O profeta/sentinela demonstra, sem margem para dúvidas, que Deus não quer a morte do pecador, mas que ele se converta e viva.
Atualização
E hoje? Deus continua a amar o seu Povo? Continua a querer que ele se converta e viva? Continua a preocupar-Se em oferecer ao seu Povo a salvação – isto é, a possibilidade de ser feliz neste mundo e de alcançar, no final da sua caminhada nesta terra, a vida definitiva? O Deus de ontem não será o Deus de hoje e de amanhã?
Na verdade, Ele continua a chamar, todos os dias, profetas/sentinelas que alertem o mundo e os homens. Pelo Batismo, todos nós fomos constituídos profetas. Recebemos do nosso Deus a missão de dizer aos nossos irmãos que certos valores que o mundo cultiva e endeusa são responsáveis por muitos dos dramas que afligem os homens. Temos consciência de que recebemos de Deus uma missão profética e que essa missão nos compromete com a denúncia do que está errado no mundo e na vida dos homens?
O que é que devemos denunciar? Tudo aquilo que contradiz os projetos de Deus. Portanto, o profeta/sentinela tem de ser alguém que vive em comunhão com Deus, que medita a Palavra de Deus, que dialoga com Deus e que, nessa intimidade, vai percebendo o que Deus quer para os homens e para o mundo. Aliás, é dessa relação forte com Deus que o profeta/sentinela tira também a coragem para falar, para denunciar, para agir. Portanto, dificilmente seremos fiéis à nossa missão profética sem um relacionamento forte com Deus. Encontro tempo para potenciar a relação com Deus, para falar com Deus, para escutar e meditar a sua Palavra?
É preciso também que o profeta/sentinela desenvolva uma consciência crítica sobre o mundo que o rodeia. Ele tem de estar atento aos acontecimentos da vida nacional e internacional (o profeta tem de ouvir as notícias e ler o jornal!), tem de conhecer a fundo as questões que os homens debatem (senão, a sua intervenção dificilmente será levada a sério); e tem, especialmente, de aprender a ler os acontecimentos à luz de Deus e do projeto de Deus. Estou atento aos sinais dos tempos e procuro analisá-los a partir de uma perspectiva de fé?
É preciso, finalmente, que o profeta/sentinela não se acomode no seu cantinho cômodo, demitindo-se das suas responsabilidades. Tudo o que se passa no mundo, tudo o que afeta a vida de um homem ou de uma mulher, diz respeito ao profeta. Podemos ficar calados diante das escolhas erradas que o mundo faz? O nosso silêncio não nos tornará cúmplices daqueles que destroem o mundo e que condenam ao sofrimento e à miséria tantos homens e mulheres?
2ª leitura: Rm. 13,8-10 - Ambiente
Continuamos a ler a segunda parte da carta aos Romanos (cf. Rm. 12,1-15,13). Aí, Paulo mostra – em termos práticos – como devem viver aqueles que Deus chama à salvação.
Deus oferece a todos a salvação; ao homem resta acolher o dom de Deus, aderindo a Jesus e à sua proposta… Mas a adesão a Jesus implica assumir, na prática do dia a dia, atitudes coerentes com essa vida nova que o cristão acolheu no dia do seu batismo. São essas atitudes que Paulo recomenda aos romanos (e aos crentes em geral) nesta segunda parte da carta.
No ano 49, o imperador Cláudio tinha publicado um édito que expulsava de Roma os judeus (incluindo os cristãos de origem judaica). Ora em 57/58 (quando a carta aos Romanos foi escrita), muitos desses judeus tinham já voltado a Roma. Será que os cristãos de origem pagã, “donos” da comunidade durante bastante tempo, ostentavam a sua superioridade e manifestavam desprezo pelos cristãos de origem judaica entretanto regressados a Roma? Será que, por essa razão, havia divisões e falta de amor na comunidade de Roma? Nessas circunstâncias, Paulo teria escrito uma “carta de reconciliação”, destinada a unir uma comunidade dividida. O apelo ao amor que o nosso texto nos apresenta poderia entender-se neste contexto.
Mensagem
Paulo exorta os crentes de Roma a construir toda a sua vida sobre o amor. O cristianismo sem amor é uma mentira. Os cristãos não podem nunca deixar de amar os seus irmãos.
Essa exigência, contudo, nunca estará completamente realizada… Qualquer dívida pode ser liquidada de uma vez; mas o amor não: em cada instante é preciso amar e amar sempre mais. O cristão nunca poderá cruzar os braços e dizer que já ama o suficiente ou que já amou tudo: ele tem uma dívida eterna de amor para com os seus irmãos.
O amor está no centro de toda a nossa experiência religiosa. No mandamento do amor, resume-se toda a Lei e todos os preceitos. Os diversos mandamentos não passam, aliás, de especificações da exigência do amor. A ideia – aqui expressa – de que toda a Lei se resume no amor não é uma “invenção” de Paulo, mas é uma constante na tradição bíblica (cf. Mt. 22,34-40).
Atualização
Na última ceia, despedindo-se dos discípulos, Jesus resumiu desta forma a proposta que veio apresentar aos homens: “amai-vos uns aos outros como Eu vos amei” (Jo 15,12). Este não é “mais um mandamento”, mas é “o mandamento” de Jesus. Entretanto, algures durante a nossa caminhada pela história, esquecemos “o mandamento” de Jesus e distraímo-nos com questões secundárias… Preocupamo-nos em discutir ritos litúrgicos, problemas de organização e de autoridade, códigos de leis, questões de disciplina… e esquecemos “o mandamento” do amor. Já é tempo de voltarmos ao essencial. O cristão é aquele que, como Cristo, ama sem cálculo, sem contrapartidas, sem limite, sem medida. Na nossa experiência cristã, só o amor é essencial; tudo o resto é secundário.
As nossas comunidades cristãs, a exemplo da primitiva comunidade cristã de Jerusalém, deviam ser comunidades fraternas onde se notam as marcas do amor. Os que estão de fora deviam olhar para nós e dizer: “eles são diferentes, são uma mais valia para o mundo, porque amam mais do que os outros”. É isso que acontece? Quem contempla as nossas comunidades, descobre as marcas do amor, ou as marcas da insensibilidade, do egoísmo, do confronto, do ciúme, da inveja? Os estrangeiros, os doentes, os necessitados, os débeis, os marginalizados são acolhidos nas nossas comunidades com solicitude e amor?
É importante sentirmos que a nossa dívida de amor nunca está paga. Podemos, todos os dias, realizar gestos de partilha, de serviço, de acolhimento, de reconciliação, de perdão… mas é preciso, neste campo, ir sempre mais além. Há sempre mais um irmão que é preciso amar e acolher; há sempre mais um gesto de solidariedade que é preciso fazer; há sempre mais um sorriso que podemos partilhar; há sempre mais uma palavra de esperança que podemos oferecer a alguém. Sobretudo, é preciso que sintamos que a nossa caminhada de amor nunca está concluída.
Evangelho: Mt. 18,15-20 - Ambiente
O capítulo 18 do Evangelho de Mateus é conhecido como o “discurso eclesial”. Apresenta uma catequese de Jesus sobre a experiência de caminhada em comunidade. Aqui, Mateus ampliou de forma significativa algumas instruções apresentadas por Marcos sobre a vida comunitária (cf. Mc. 9,33-37. 42-47) e compôs, com esses materiais, um dos cinco grandes discursos que o seu Evangelho nos apresenta. Os destinatários desta “instrução” são os discípulos e, através deles, a comunidade a que o Evangelho de Mateus se dirige.
A comunidade de Mateus é uma comunidade “normal” – isto é, é uma comunidade parecida com qualquer uma das que nós conhecemos. Nessa comunidade existem tensões entre os diversos grupos e problemas de convivência: há irmãos que se julgam superiores aos outros e que querem ocupar os primeiros lugares; há irmãos que tomam atitudes prepotentes e que escandalizam os pobres e os débeis; há irmãos que magoam e ofendem outros membros da comunidade; há irmãos que têm dificuldade em perdoar as falhas e os erros dos outros… Para responder a este quadro, Mateus elaborou uma exortação que convida à simplicidade e humildade, ao acolhimento dos pequenos, dos pobres e dos excluídos, ao perdão e ao amor. Ele desenha, assim, um “modelo” de comunidade para os cristãos de todos os tempos: a comunidade de Jesus tem de ser uma família de irmãos, que vive em harmonia, que dá atenção aos pequenos e aos débeis, que escuta os apelos e os conselhos do Pai e que vive no amor.
Mensagem
O fragmento do “discurso eclesial” que nos é hoje proposto refere-se, especialmente, ao modo de proceder para com o irmão que errou e que provocou conflitos no seio da comunidade. Como é que os irmãos da comunidade devem proceder, nessa situação? Devem condenar, sem mais, e marginalizar o infrator?
Não. Neste quadro, as decisões radicais e fundamentalistas raramente são cristãs. É preciso tratar o problema com bom senso, com maturidade, com equilíbrio, com tolerância e, acima de tudo, com amor. Mateus propõe um caminho em várias etapas…
Em primeiro lugar, Mateus propõe um encontro com esse irmão, em privado, e que se fale com ele cara a cara sobre o problema (v. 15). O caminho correto não passa, decididamente, por dizer mal “por trás”, por publicitar a falta, por criticar publicamente (ainda que não se invente nada), e muito menos por espalhar boatos, por caluniar, por difamar. O caminho correto passa pelo confronto pessoal, leal, honesto, sereno, compreensivo e tolerante com o irmão em causa.
Se esse encontro não resultar, Mateus propõe uma segunda tentativa. Essa nova tentativa implica o recurso a outros irmãos (“toma contigo uma ou duas pessoas” – diz Mateus – v. 16) que, com serenidade, sensibilidade e bom senso, sejam capazes de fazer o infrator perceber o sem sentido do seu comportamento.
Se também essa tentativa falhar, resta o recurso à comunidade. A comunidade será então chamada a confrontar o infrator, a recordar-lhe as exigências do caminho cristão e a pedir-lhe uma decisão (v. 16a).
No caso de o infrator se obstinar no seu comportamento errado, a comunidade terá que reconhecer, com dor, a situação em que esse irmão se colocou a si próprio; e terá de aceitar que esse comportamento o colocou à margem da comunidade. Mateus acrescenta que, nesse caso, o faltoso será considerado como “um pagão ou um cobrador de impostos” (v. 17b). Isto significa que os pagãos e os cobradores de impostos não têm lugar na comunidade de Mateus? Não. Ao usar este exemplo, o autor deste texto não pretende referir-se a indivíduos, mas a situações. Trata-se de imagens tipicamente judaicas para falar de pessoas que estão instaladas em situações de erro, que se obstinam no seu mau proceder e que recusam todas as oportunidades de integrar a comunidade da salvação.
A Igreja tem o direito de expulsar os pecadores? Mateus não sugere aqui, com certeza, que a Igreja possa excluir da comunhão qualquer irmão que errou. Na realidade, a Igreja é uma realidade divina e humana, onde coexistem a santidade e o pecado. O que Mateus aqui sugere é que a Igreja tem de tomar posição quando algum dos seus membros, de forma consciente e obstinada, recusa a proposta do Reino e realiza atos que estão frontalmente contra as propostas que Cristo veio trazer. Nesse caso, contudo, nem é a Igreja que exclui o prevaricador: ele é que, pelas suas opções, se coloca decididamente à margem da comunidade. A Igreja tem, no entanto, que constatar o fato e agir em consequência.
Depois desta instrução sobre a correção fraterna, Mateus acrescenta três “ditos” de Jesus (cf. Mt. 18,18-20) que, originalmente, seriam independentes da temática precedente, mas que Mateus encaixou neste contexto.
O primeiro (v. 18) refere-se ao poder, conferido à comunidade, de “ligar” e “desligar”. Entre os judeus, a expressão designava o poder para interpretar a Lei com autoridade, para declarar o que era ou não permitido e para excluir ou reintroduzir alguém na comunidade do Povo de Deus; aqui, significa que a comunidade (algum tempo antes – cf. Mt. 16,19 – Jesus dissera estas mesmas palavras a Pedro; mas aí Pedro representava a totalidade da comunidade dos discípulos) tem o poder para interpretar as palavras de Jesus, para acolher aqueles que aceitam as suas propostas e para excluir aqueles que não estão dispostos a seguir o caminho que Jesus propôs.
O segundo (vers. 19) sugere que as decisões graves para a vida da comunidade devem ser tomadas em clima de oração. Assegura aos discípulos, reunidos em oração, que o Pai os escutará.
O terceiro (vers. 20) garante aos discípulos a presença de Jesus “no meio” da comunidade. Neste contexto, sugere que as tentativas de correção e de reconciliação entre irmãos, no seio da comunidade, terão o apoio e a assistência de Jesus.
Atualização
A palavra “tolerância” é uma palavra profundamente cristã, que sugere o respeito pelo outro, pelas suas diferenças, até pelos seus erros e falhas. No entanto, o que significa “tolerância”? Significa que cada um pode fazer o mal ou o bem que quiser, sem que tal nos diga minimamente respeito? Implica recusarmo-nos a intervir quando alguém toma atitudes que atentam contra a vida, a liberdade, a dignidade, os direitos dos outros? Quer dizer que devemos ficar indiferentes quando alguém assume comportamentos de risco, porque ele “é maior e vacinado” e nós não temos nada com isso? Quais são as fronteiras da “tolerância”? Diante de alguém que se obstina no erro, que destrói a sua vida e a dos outros, devemos ficar de braços cruzados? Até que ponto vai a nossa responsabilidade para com os irmãos que nos rodeiam? A “tolerância” não será, tantas vezes, uma desculpa que serve para disfarçar a indiferença, a demissão das responsabilidades, o comodismo?
O Evangelho deste domingo sugere a nossa responsabilidade em ajudar cada irmão a tomar consciência dos seus erros. Convida-nos a respeitar o nosso irmão, mas a não pactuar com as atitudes erradas que ele possa assumir. Amar alguém é não ficar indiferente quando ele está a fazer mal a si próprio; por isso, amar significa, muitas vezes, corrigir, admoestar, questionar, discordar, interpelar… É preciso amar muito e respeitar muito o outro, para correr o risco de não concordar com ele, de lhe fazer observações que o vão magoar; no entanto, trata-se de uma exigência que resulta do mandamento do amor…
Que atitude tomar em relação a quem erra? Como proceder? Antes de mais, é preciso evitar publicitar os erros e as falhas dos outros. O denunciar publicamente o erro do irmão, pode significar destruir-lhe a credibilidade e o bom-nome, a paz e a tranquilidade, as relações familiares e a confiança dos amigos. Fazer com que alguém seja julgado na praça pública – seja ou não culpado – é condená-lo antecipadamente, é não dar-lhe a possibilidade de se defender e de se explicar, é restringir-lhe o direito de apelar à misericórdia e à capacidade de perdão dos outros irmãos. Humilhar o irmão publicamente é, sobretudo, uma grave falta contra o amor. É por isso que o Evangelho de hoje convida a ir ao encontro do irmão que falhou e a repreendê-lo a sós…
Sobretudo, é preciso que a nossa intervenção junto do nosso irmão não seja guiada pelo ódio, pela vingança, pelo ciúme, pela inveja, mas seja guiada pelo amor. A lógica de Deus não é a condenação do pecador, mas a sua conversão; e essa lógica devia estar sempre presente, quando nos confrontamos com os irmãos que falharam. O que é que nos leva, por vezes, a agir e a confrontar os nossos irmãos com os seus erros: o orgulho ferido, a vontade de humilhar aquele que nos magoou, a má vontade, ou o amor e a vontade de ver o irmão reencontrar a felicidade e a paz?
A Igreja tem o direito e o dever de pronunciar palavras de denúncia e de condenação, diante de atos que afetam gravemente o bem comum… No entanto, deve distinguir claramente entre a pessoa e os seus atos errados. As ações erradas devem ser condenadas; os que cometeram essas ações devem ser vistos como irmãos, a quem se ama, a quem se acolhe e a quem se dá sempre outra oportunidade de acolher as propostas de Jesus e de integrar a comunidade do Reino.
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho

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CORREÇÃO FRATERNA
Nesta leitura de hoje temos duas perícopes sobre temas distintos: a correção fraterna (vv. 15-18) e a oração em comum (vv. 19-20). São tiradas do chamado discurso eclesiástico de Mateus, que aparece como mais uma agrupamento artificial do Evangelista, para nos oferecer um concentrado de instruções de Jesus referentes à vida da nova comunidade fundada por Ele, a sua Igreja (cf. Mt. 16, 18), talvez (segundo pensam alguns) com o fim de propor uma espécie de regra da comunidade, à maneira da dos essênios de Qumrã (cf. 1 QS., VI, 62; VII, 25).
15-18 «Se teu irmão te ofender…» Esta tradução não facilita o sentido que sempre se viu na passagem referente à correção fraterna, pois não se trata de meter na linha um irmão que me anda a aborrecer, ou a melindrar; o que está em causa é ajudar aquele irmão que peca (gravemente, como dá a entender o original grego: hamartêsê) e que põe em risco o bem da sua alma e o bem dos irmãos. Nesta linha estão os melhores manuscritos, como o Vaticano, o Sinaítico e outros, que têm escrito apenas «pecar», omitindo o «contra ti». No entanto, na linha da Vulgata, a Neovulgata também não segue estes manuscritos.
17 «Comunica o caso à Igreja», isto é, à sua legítima autoridade, aos chefes que a governam, pois, desde o princípio, a Igreja nunca foi uma comunidade desorganizada e acéfala, sem autoridade (cf. Act. 2, 42; 4, 34-35; 15; Gal. 2, 2; 1, 8-9: Act. 20, 28, etc.). É evidente que, para se regulamentar desta maneira todo este procedimento na correção, era por se encarar o caso de faltas graves e que trariam prejuízo à comunidade; no entanto o dever da correção fraterna não se pode limitar só a este tipo de faltas. «Considera-o como um pagão ou um publicano»: certamente não por desprezo ou má vontade, mas para que esse irmão reconsidere e lhe sirva de emenda (cf. 1Cor. 5, 4-5), embora a expressão seja demasiado dura e pareça aludir mesmo uma exclusão definitiva.
18 «Tudo o que ligardes na terra…» A passagem do «tu» ao «vós» neste texto sugere que não estamos perante uma seqüência originária de sentenças de Jesus, o que ajuda a dirimir a velha questão entre protestantes e católicos, a saber, se este «vós» se refere a todo a comunidade, ou apenas aos chefes. Sem entrarmos em complicadas questões de crítica histórica e literária, basta-nos ver que se trata de uma aplicação ao círculo dos Doze daquilo que é dito a Pedro, sem tirar nada do que lhe é dito por Cristo (cf. Jo 20, 21-23; Mt. 16, 19; Jo 21, 15-17).
19-20 «Onde estão dois ou três reunidos em meu nome…» O texto vai mais além do encarecimento da oração em comum e em nome de Jesus, como corresponde ao contexto de um «discurso eclesiástico», que regula a vida em Igreja; com efeito, o paralelismo com uma máxima da Mixná – «onde estão dois sentados (juntos) e entre si falam as palavras da toráh, ali mora entre eles a xekhiná (Deus)» – sugere que Jesus é posto no mesmo plano de Deus, segundo uma técnica da hermenêutica rabínica (uma atualização deráxica chamada rémez, ou alusão).
Sugestões para a homilia
a. O profeta era, no antigo Povo de Deus, o homem incumbido de anunciar a mensagem de Deus ao povo, aos reis e aos sacerdotes. Houve casos em que o profeta também era sacerdote e rei, mas geralmente eram ministérios distintos.
Por vezes, o ministério profético tornava o profeta indesejado pelos destinatários e isso trazia-lhe sofrimentos e perseguições, pelo que o profeta tinha de ser homem especialmente corajoso. É essa advertência de Deus que escutamos na 1ª leitura, uma mensagem dirigida a Ezequiel, enviado aos hebreus durante o cativeiro da Babilônia para os chamar à conversão, despertando-lhes a consciência de culpados pela situação em que se encontravam.
b. No Novo Testamento, Jesus assumiu-se como o Profeta do Pai e, mais que isso, como a Palavra/pessoa, o Verbo do Pai, que vinha cumprir e completar a mensagem anteriormente dada a Moisés e aos profetas. Esse ministério trouxe-lhe perseguições, e, oficialmente, morreu pelo que ensinou.
c. Na comunidade cristã, todo o cristão é profeta, e sobre ele pesa o dever de anunciar e de corrigir fraternalmente. Essa dimensão nasce do batismo: na unção final da celebração, o cristão é declarado «participante de Cristo sacerdote, profeta e rei».
O exercício do anúncio cristão e a obrigação da correção fraterna acerca de situações erradas, injustas e nocivas para a própria pessoa e para a comunidade pesam sobretudo sobre os responsáveis pelas comunidades: pais e os seus colaboradores, bispos, párocos e diáconos. Um tal exercício tem de ir envolto num clima de amor à pessoa que é advertida, evitando a humilhação desnecessária, o que requer especiais cuidados de prudência e oportunidade, como lembra o texto evangélico de hoje (Mt. 18,15-20). O sacramento da confissão e a vida de matrimônio são, fundamentalmente, um rosário desses exercícios.
d. Hoje, constitui especial obstáculo ao dever de advertir a errada compreensão do espírito de tolerância que leva à aceitação de tudo, e é obstáculo à aceitação da advertência o direito à autonomia e o falado direito à opinião pessoal. Esses sentimentos são, freqüentemente, prolongamento do subjetivismo da cultura moderna, induzem à desobediência, desprezam a verdade objetiva e destroem a comunidade. Veja-se o que acontece na estrada, nos sectores do fisco, e o que pode acontecer no sacramento da comunhão e nas celebrações litúrgicas: afirmações religiosas e celebrações sem verdade eclesial.
O «gesto da paz» da Eucaristia não é um gesto de parabéns nem de felicitações nem de amizade entre conhecidos, mas é um ato de comunhão com quem está ao lado e a quem se desejando aquela paz profunda que só Deus pode dar.
padre João Resina 
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 A correção fraterna e a oração em comum

Nesta leitura de hoje temos duas perícopes sobre temas distintos: a correção fraterna (vv. 15-18) e a oração em comum (vv. 19-20). São tiradas do chamado discurso eclesiástico de Mateus, que aparece como mais uma agrupamento artificial do Evangelista, para nos oferecer um concentrado de instruções de Jesus referentes à vida da nova comunidade fundada por Ele, a sua Igreja (cf. Mt. 16, 18), talvez (segundo pensam alguns) com o fim de propor uma espécie de regra da comunidade, à maneira da dos essênios de Qumrã (cf. 1 QS., VI, 62; VII, 25).
15-18 «Se teu irmão te ofender…» Esta tradução não facilita o sentido que sempre se viu na passagem referente à correção fraterna, pois não se trata de meter na linha um irmão que me anda a aborrecer, ou a melindrar; o que está em causa é ajudar aquele irmão que peca (gravemente, como dá a entender o original grego: hamartêsê) e que põe em risco o bem da sua alma e o bem dos irmãos. Nesta linha estão os melhores manuscritos, como o Vaticano, o Sinaítico e outros, que têm escrito apenas «pecar», omitindo o «contra ti». No entanto, na linha da Vulgata, a Neovulgata também não segue estes manuscritos.
17 «Comunica o caso à Igreja», isto é, à sua legítima autoridade, aos chefes que a governam, pois, desde o princípio, a Igreja nunca foi uma comunidade desorganizada e acéfala, sem autoridade (cf. Act. 2, 42; 4, 34-35; 15; Gal. 2, 2; 1, 8-9: Act. 20, 28, etc.). É evidente que, para se regulamentar desta maneira todo este procedimento na correção, era por se encarar o caso de faltas graves e que trariam prejuízo à comunidade; no entanto o dever da correção fraterna não se pode limitar só a este tipo de faltas. «Considera-o como um pagão ou um publicano»: certamente não por desprezo ou má vontade, mas para que esse irmão reconsidere e lhe sirva de emenda (cf. 1Cor. 5, 4-5), embora a expressão seja demasiado dura e pareça aludir mesmo uma exclusão definitiva.
18 «Tudo o que ligardes na terra…» A passagem do «tu» ao «vós» neste texto sugere que não estamos perante uma seqüência originária de sentenças de Jesus, o que ajuda a dirimir a velha questão entre protestantes e católicos, a saber, se este «vós» se refere a todo a comunidade, ou apenas aos chefes. Sem entrarmos em complicadas questões de crítica histórica e literária, basta-nos ver que se trata de uma aplicação ao círculo dos Doze daquilo que é dito a Pedro, sem tirar nada do que lhe é dito por Cristo (cf. Jo 20, 21-23; Mt. 16, 19; Jo 21, 15-17).
19-20 «Onde estão dois ou três reunidos em meu nome…» O texto vai mais além do encarecimento da oração em comum e em nome de Jesus, como corresponde ao contexto de um «discurso eclesiástico», que regula a vida em Igreja; com efeito, o paralelismo com uma máxima da Mixná – «onde estão dois sentados (juntos) e entre si falam as palavras da toráh, ali mora entre eles a xekhiná (Deus)» – sugere que Jesus é posto no mesmo plano de Deus, segundo uma técnica da hermenêutica rabínica (uma atualização deráxica chamada rémez, ou alusão).
Sugestões para a homilia
a. O profeta era, no antigo Povo de Deus, o homem incumbido de anunciar a mensagem de Deus ao povo, aos reis e aos sacerdotes. Houve casos em que o profeta também era sacerdote e rei, mas geralmente eram ministérios distintos.
Por vezes, o ministério profético tornava o profeta indesejado pelos destinatários e isso trazia-lhe sofrimentos e perseguições, pelo que o profeta tinha de ser homem especialmente corajoso. É essa advertência de Deus que escutamos na 1ª leitura, uma mensagem dirigida a Ezequiel, enviado aos hebreus durante o cativeiro da Babilônia para os chamar à conversão, despertando-lhes a consciência de culpados pela situação em que se encontravam.
b. No Novo Testamento, Jesus assumiu-se como o Profeta do Pai e, mais que isso, como a Palavra/pessoa, o Verbo do Pai, que vinha cumprir e completar a mensagem anteriormente dada a Moisés e aos profetas. Esse ministério trouxe-lhe perseguições, e, oficialmente, morreu pelo que ensinou.
c. Na comunidade cristã, todo o cristão é profeta, e sobre ele pesa o dever de anunciar e de corrigir fraternalmente. Essa dimensão nasce do batismo: na unção final da celebração, o cristão é declarado «participante de Cristo sacerdote, profeta e rei».
O exercício do anúncio cristão e a obrigação da correção fraterna acerca de situações erradas, injustas e nocivas para a própria pessoa e para a comunidade pesam sobretudo sobre os responsáveis pelas comunidades: pais e os seus colaboradores, bispos, párocos e diáconos. Um tal exercício tem de ir envolto num clima de amor à pessoa que é advertida, evitando a humilhação desnecessária, o que requer especiais cuidados de prudência e oportunidade, como lembra o texto evangélico de hoje (Mt. 18,15-20). O sacramento da confissão e a vida de matrimônio são, fundamentalmente, um rosário desses exercícios.
d. Hoje, constitui especial obstáculo ao dever de advertir a errada compreensão do espírito de tolerância que leva à aceitação de tudo, e é obstáculo à aceitação da advertência o direito à autonomia e o falado direito à opinião pessoal. Esses sentimentos são, freqüentemente, prolongamento do subjetivismo da cultura moderna, induzem à desobediência, desprezam a verdade objetiva e destroem a comunidade. Veja-se o que acontece na estrada, nos sectores do fisco, e o que pode acontecer no sacramento da comunhão e nas celebrações litúrgicas: afirmações religiosas e celebrações sem verdade eclesial.
O «gesto da paz» da Eucaristia não é um gesto de parabéns nem de felicitações nem de amizade entre conhecidos, mas é um ato de comunhão com quem está ao lado e a quem se desejando aquela paz profunda que só Deus pode dar.
padre C. Madrigal
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CORREÇÃO FRATERNA

Primeira leitura – Ezequiel 33,7-9. Responsabilidade pela conversão do pecador: “sentinela de Israel”. Os profetas eram sentinelas em Israel; deviam dar alerta, e o fizeram. Mas o povo não prestou atenção. Veio a catástrofe, o exílio. No tempo do exílio da Babilônia e da confusão reinante no meio do povo, o profeta Ezequiel descobre sua missão em relação à comunidade.
O texto que hoje lemos introduz a segunda parte da missão de Ezequiel (Ezequiel 33-48), como sentinela que deve anunciar os perigos ao povo, estando sempre atento às menores necessidades. A parábola do profeta-vigia (Ezequiel 33,1-9) abre a segunda parte da coleção dos oráculos de Ezequiel.
Como a sentinela, o profeta tem uma função limitada: deve ser fiel à Palavra divina que recebe e anunciá-la, advertindo o povo para o perigo. Torna-se responsável se for infiel na transmissão da Palavra, ou se deixar de anunciá-la. Ao fiel cabe o dever de atender aos apelos do profeta e converter-se. Ao semeador cabe lançar a semente, e à terra produzir o fruto (Mateus 13,3-9). Assim a responsabilidade do profeta é a de ousar afrontar o mal e os pecadores, e fazer tudo para convertê-los.
A função de vigiar, de ser sentinela, denunciando o erro, a injustiça, e os perigos que ameaçam a dignidade humana, o bem-estar espiritual e corporal do irmão, ou da comunidade, é um dever que toca a todo cristão, mas em especial ao presbítero-pregador. Como Ezequiel, o presbítero deverá procurar, à luz do Evangelho deste Domingo (Mateus 18,15-20), não só denunciar e desencorajar o erro, corrigindo o pecador, mas encorajar o cristão na prática do bem, seja pela palavra seja pelo próprio exemplo de vida.
Perguntando por um pregador angustiado diante de sua responsabilidade de denunciar ao ímpio sua impiedade (Ezequiel 33,8), São Francisco de Assis respondeu assim, com sabedoria: “Entendo que o servidor de Deus deve arder tanto na vida e na santidade, que repreenda todos os maus com a luz de seu exemplo e com as palavras de sua conversação. Direi que, assim, o esplendor de sua vida e o bom perfume de sua fama hão de anunciar a todos sua iniqüidade” (Tomás de Celano, Segunda Vida de São Francisco, Vozes, Petrópolis, segunda edição, 1976, pág. 148).
Salmo responsorial – Salmo 94/95,1-2.6-7.8-9. Este Salmo é um ato litúrgico. Os versículos 1 a 2, é um convite ao hino, com referência ao rito litúrgico de entrada: a estes versículos o Salmo deve o seu uso como invitatório, no início do Ofício Divino. No convite, com novo rito litúrgico: prostração diante de Deus. Em seguida o Salmo fala da eleição histórica do povo e a Aliança. “Ele é o nosso Deus, e nós somos o seu povo” é a fórmula densa da Aliança.
O povo já vive na terra prometida, tem um Templo, parece ter chegado ao lugar do repouso. E, apesar disso, cada dia deve ouvir o chamado de Deus e cumpri-lo, para conservar o dom da terra, onde participa no repouso de Deus. Do contrário, sua infidelidade na terra prometida será como a infidelidade dos pais no deserto.
O rosto de Deus neste Salmo. Entrar na terra prometida ou conservá-la são questões ligadas à Aliança entre Deus e seu povo. Entrar na terra era conseqüência da fidelidade à Aliança (algo que a geração do deserto não soube manter); conservar a terra era resultado de uma Aliança mantida ao longo das gerações. Em ambos os casos, o tema da Aliança está presente. Além disso, como vimos, entre Deus e o povo há um compromisso de mútua pertença: Ele é o Deus dos hebreus, e o povo é o povo de Deus (versículo 7a). A imagem do Pastor (versículo 7a) também é importante para descobrir o rosto de Deus neste Salmo. A grande ação de Deus-Pastor foi ter conduzido seu povo para fora do cativeiro egípcio, levando-o, pelo deserto, rumo à liberdade e à vida na terra da promessa. A grande resposta do povo será deixar-se conduzir por Deus-Pastor, obedecendo à voz Dele (versículo 7b).
Jesus se apresentou como Pastor (João 10), conhecedor do íntimo de cada pessoa (João 2,25). Por isso sua voz profética denunciou as injustiças e seus causadores (Mateus 23). Denunciou a religião formalista, de aparências (Mateus 7,21), e, num gesto profético, declarou o fim do Templo de Jerusalém e de sua corrupção, apesar da aparente fachada de lugar sagrado (João 2,13-22). Jesus denunciou as mesas coisas do salmista-profeta.
A Carta aos Hebreus nos oferece um comentário cristão deste Salmo (Hebreus 3,7-4,11). Todo o tempo do Primeiro Testamento é uma repetição chamada e espera do “hoje” em que o povo poderá entrar no descanso de Deus. Com Cristo chega este “hoje”, com sua ressurreição inaugura-se no mundo o repouso de Deus, que descansou quando terminou seu trabalho criador. Este “hoje” de Cristo se oferece a todos: deve-se ouvi-lo e entrar depressa em seu descanso. Mas a vida cristã é de novo um “começo”, que temos de manter até o fim, para entrar no repouso definitivo de Cristo em Deus.
Por isso, aquele que tem fé não deve fechar seu coração nem seus ouvidos a Deus. Ele, tal qual pastor, encontra, nos momentos difíceis, um caminho para renovar sua Aliança. “Não fecheis o coração; ouvi vosso Deus”. Na compreensão hebraica, o coração, isto é, a consciência é o centro das decisões da pessoa humana.
Cantando este Salmo na celebração deste domingo, adoremos o Senhor nosso Deus, vamos a Ele com toda a confiança, na certeza de que Ele nos converte e nos prepara para a sua comunhão:
Não fecheis o coração, ouvi, hoje, a voz de Deus!
Segunda leitura – Romanos 13,8-10. Nesta leitura, Paulo na suas exortações finais aos Romanos, resume a prática da vida cristã: não ficar devendo nada aos outros senão a caridade, que é sempre insuficiente (o que não significa que não precisamos fazer o possível...). Pois a caridade é o resumo de tudo. Se nos esforçarmos por ela saldamos automaticamente todas as outras obrigações. “O amor é o pleno cumprimento da Lei” (Romanos 13,8-10).
Quando nós não devemos nada a ninguém, poderíamos pensar que tudo estivesse em ordem e nada devesse ainda ser feito; estaríamos quites. Porém, para o cristão, segundo Paulo agora é que começa tudo, pois ainda falta o principal, “o amor mútuo”. Depois que demos tudo a que o outro tinha direito, então falta doar a nossa vida, pois continuaremos sempre a dever amor aos outros, embora tenhamos saldado todas as dívidas.
Na sua justiça, Deus dá a todos o que precisam: fundamentalmente, seu amor de Pai. Nós, para sermos justos, devemos também dar-nos mutuamente este dom, embora sempre ficaremos devendo. Toda a justiça está incluída nisso: Romanos 13,8 cf. João 13,34; Gálatas 5,14 – 13,9-10 cf. Êxodo 13-14; Deuteronômio 5,17; Levítico 19,18; 1Coríntios 13,4-7).
Evangelho – Mateus 18,15-20. O capítulo 18 de Mateus, chamado de Sermão da Comunidade, mostra como os seguidores de Jesus devem viver a justiça do Reino dentro da comunidade, na fidelidade a seu projeto: superar a competição, tornando-se como uma criança; evitar o contra testemunho e ir atrás da ovelha perdida, acolher e fazer festa pelo encontro.
No texto litúrgico de hoje, o tema importante desta passagem é o perdão. Cristo lembra seu dever (versículos 21-23) e, ao mesmo tempo, transmite seu poder (versículos 15-18). A era nova é aquela em que o Senhor oferece ao ser humano a possibilidade de sair do pecado, não somente triunfando sobre o seu na vida pessoal, mas ainda triunfando sobre o pecado dos outros pelo perdão.
A sociedade primitiva se insurgia violentamente contra a falta do indivíduo, pois não tinha meios de perdoá-lo e apenas podia vingar-se a ofensa por uma punição exemplar, setenta e sete vezes mais forte que a própria falta (Gênesis 4,24). Portanto, será realizado um importante progresso quando a lei estabelecer o “talião” (Êxodo 21,24).
O Levítico vai mais adiante (Levítico 19,13-17). Não instaura, propriamente falando, a obrigação do perdão (o único caso de perdão no Primeiro Testamento: 1Samuel 24 e 1Samuel 26), mas insiste na solidariedade que une os irmãos entre si e proíbe-os de recorrerem aos procedimentos jurídicos para resolver suas contendas.
A doutrina de Cristo sobre o perdão marca um progresso decisivo. O Novo Testamento multiplica seus exemplos: Cristo perdoa seus carrascos (Lucas 23,34); Estevão (Atos 7,59-60), Paulo (1Coríntios 4,12-13) e muitos outros fazem o mesmo.
Geralmente, a existência do perdão está ligada à iminência do último julgamento: para que Deus nos perdoe nesse momento decisivo, é preciso que desde agora perdoemos nossos irmãos. O perdão pertence a uma vida dominada pela misericórdia de Deus e pela justificação do pecador.
Mateus está consciente de que a Igreja é uma comunidade de salvos que não pode ter outras intenções senão a de “salvar o pecador”. A comunidade cristã se distingue da comunidade judaica: só “julga o pecador perdoando-o”. Por isso, a condenação só pode cair sobre ele, caso se recuse a viver no seio dessa comunidade acolhedora.
O caráter pessoal da primeira advertência chama a atenção para o respeito que cada pessoa merece, mesmo se encontrando numa situação de pecado. As tentativas seguintes mostram que o amor verdadeiro vai até o fim, na busca da ovelha que se perdeu. Ninguém pode ser excluído precipitadamente. “Se ele não vos der ouvido, dize-o à Igreja” (versículo 17a), isto é, a toda a comunidade cristã, seus líderes e membros. “Se nem mesmo à Igreja ele ouvir, seja tratado como se fosse um pagão ou um pecador público”. Podemos observar que o texto não afirma: “Se nem mesmo à Igreja ele ouvir, seja para a Igreja como se fosse um pagão ou um pecador público”, mas tão simplesmente: “Se nem mesmo à Igreja ele ouvir, seja tratado como se fosse um pagão ou um pecador público”. Trata-se, aparentemente, não de uma expulsão da Igreja, mas de uma espécie de “quarentena” dentro da própria Igreja, isto é, dar um tempo.
Os versículos 19-20 parecem, à primeiras vista, uma declaração geral sobre a oração, sem nexo algum com o que precede. Estes versículos fazem referência à oração (versículo 19) é à presença de Cristo na Igreja (versículo 20) totalmente imprescindíveis ao uso correto da correção fraterna. Em outras palavras, toda a disciplina da Igreja deve ser efetuada em num ambiente de oração, num clima litúrgico, no qual estará presente o Senhor. O Cristo Senhor é sempre a autoridade máxima na Igreja.
A Igreja, embora de instituição divina, conhece a dura realidade do pecado. Composta de homens e mulheres, nela sempre estará juntos o bem e o mal, a justiça e o pecado. Ela é na história um corpo misto, e não uma comunidade de puros, perfeitos e santos. A exemplo do Cristo que veio chamar, não os justos, mas os pecadores (Mateus 9,13), ela deve mostrar uma prontidão especial para com aqueles que fracassam em sua vida cristã. Assim, a Igreja primitiva prefere manter o diálogo do que proclamar uma condenação.
O pecador só descobre o perdão de Deus quando toma consciência da sua misericórdia operando na Igreja e na assembléia eucarística.
3- A palavra celebrada vivida no cotidiano da vida
A Igreja é um povo profético. A partir de nossa unção batismal e crismal, todos nós participamos da vocação profética do Cristo, que ficou em legado para a Igreja. Somos sentinelas, que devemos dar alerta a cada suspeita. Quando enxergamos que nosso irmão ou irmã não está no caminho certo, devemos alertá-lo. E não nos podemos contentar com uma só vez como está no Evangelho. Devemos esgotar todos os meios. Avisá-lo uma segunda vez, diante de testemunhas (que podem ver se não estamos enganados), ou enfim, recorrendo ao testemunho da comunidade, a assembléia da Igreja.
Nesta altura, o poder de ligar e desligar, confiado representativamente a Pedro é confiado à Igreja toda. Pois toda ela é responsável pelo caminho de salvação de todos. A recorrência a Pedro ou seus sucessores ocorre em casos extremos. Normalmente, todos nós devemos fazer o que for preciso encaminhar nossos irmãos no caminho certo.
A Igreja se apresenta, então, na liturgia de hoje, como “comunidade de salvação”, no sentido sacramental: ela representa, torna presente o Salvador, que nos une com o Pai. A verdadeira comunidade eclesial é sacramento de Cristo e do Pai. Portanto, o texto do Evangelho de hoje não se deve entender num sentido jurídico, mas num sentido eclesial e comunitário. Por exemplo, com relação à correção fraterna, Jesus não quer dizer, formalmente, que basta chamar alguém diante de duas testemunhas e depois diante de uma comissão de Igreja (toda esclerosada...), para enfim excomungá-lo (pois é muito provável que não se converteria à vista de tal assembléia. Jesus nos ensina a colocar, profeticamente, os que erram diante da comunidade que brotou do amor de Cristo. Então, se mesmo diante deste testemunho a palavra profética não “pega”, também não podemos fazer mais nada.
O Evangelho exige diálogo na comunidade, a correção fraterna, o perdão, a oração comunitária que nos anime a trabalhar pelo Reino de Deus. Jesus ensina os passos da vivência da misericórdia e do amor fraterno em nossas relações cotidianas. Se alguém da comunidade cometeu alguma falta grave contra seu irmão, o “diálogo” é fundamental. Quem foi ofendido não vai fazer-se de vítima, nem fazer comentários, fofocas para que toda a comunidade fique sabendo, nem denunciar indiscriminadamente. A primeira e a mais difícil atitude é perdoar: ir procurar o irmão em particular, conversar, mostrar onde está o erro e convidá-lo a reintegrar-se ao seguimento de Jesus.
Quem ofendeu um membro da comunidade rompeu com a comunidade toda, porque ela é o Corpo de Cristo e todo esse Corpo foi afetado. O Evangelho nos convida a fazer de tudo, apelar a toda a criatividade para que reine entre nós o jeito de ser de Jesus. Mas, “se não lhe der ouvidos”, convide uma ou duas pessoas para ajudar no diálogo. Se mesmo assim não houver reconciliação, só depois de muitas tentativas é que se recorre à comunidade, que age em nome de Jesus, ajudando nos conflitos e nas necessidades dos irmãos. Parece até que estamos pressionando o irmão, mas como se trata da justiça do Reino, precisamos fazer de tudo para que o irmão não se perca, não saia da caminhada da comunidade, do seguimento fiel a Jesus e volte-se para as exigências evangélicas. E se nada der resultado satisfatório? Só ai a comunidade tomará conhecimento do erro e será chamada a tomar uma decisão: “Caso não der ouvidos, comunique à Igreja”.
Com a certeza da presença do Ressuscitado no meio da comunidade, somos convidados a agir como Deus age. Neste mundo de competição, ganância, mentira e acumulação, a comunidade deve ser um espaço alternativo de solidariedade, fraternidade, prática da justiça, da verdade e do perdão. Temos dado a importância necessária à lei cristã do amor, ao perdão, à correção fraterna, ao diálogo na vida familiar e na comunidade? A prática da caridade, nos diz Paulo, é “o pleno cumprimento da Lei”.
Pelo Batismo somos nomeados sentinelas por Deus. Temos denunciado o erro ou corremos o risco de Deus nos pedir contas por não termos alertado os perversos e injustos, nem os ajudado a mudarem de conduta?
Oxalá ouçamos a voz do Senhor!
4- A palavra se faz celebração
Deus nos trata com misericórdia
“Ganhamos o irmão” quando somos sinceros com ele. Não adianta “passar a mão na cabeça” de alguém que está comprovadamente encaminhando mal a sua vida. Na verdade, não “ganhamos” o irmão para cantar vitória. É ele que se ganha para si mesmo, à medida que se encontra e vê novos caminhos a trilhar.
Na antífona de entrada de hoje cantamos: “Vós sois justo, Senhor, e justa é a vossa sentença; tratai o vosso servo segundo a vossa misericórdia”. Quem dá a sentença é o juiz. A sentença de Deus sobre o pecador é um gesto de misericórdia. O servo, reconhece seu erro e acolhe a misericórdia, pois dela precisa para viver em paz.
A Eucaristia nos convoca à reconciliação
Não será difícil viver a correção fraterna quando entendermos o sentido profundo do ser Igreja, quando descobrirmos que a correção fraterna só favorece quem a recebe. Quando percebermos que o humilde pão que partimos sobre o altar e que comemos juntos, convoca-nos a um novo olhar frente aos outros.
5- Ligando a palavra com a ação eucarística
Quando nos reunimos para celebrar, nós nos constituímos Corpo de Cristo. O espaço celebrativo, ao abrigar esse Corpo vivo do Senhor, que é a comunidade de irmãos reunida em seu nome, torna-se sacrário vivo. Cada membro, com sua realidade pessoal e única, acolhido como parte viva desse corpo, manifesta a presença do Ressuscitado e deve ser considerado seu verdadeiro símbolo. E mais: “Somos incessantemente chamados a contemplar, nos rostos sofredores de nossos irmãos, o rosto de Cristo, que nos convoca a servi-lo neles” (Documento de Aparecida, n. 393).
Participando da mesa eucarística, somos mais estreitamente irmanados e fortificados no amor solidário, sempre aberto à reconciliação, como rezamos hoje na oração sobre as oferendas: “Fazei que nossa participação na Eucaristia reforce entre nós os laços da amizade”.
O abraço fraterno nos ritos de comunhão, mais do que simples saudação ou um gesto expressando cordialidade entre amigos e conhecidos, sinaliza e nos prepara para receber, na comunhão, o que realmente somos: o corpo eclesial de Cristo, como já no IV século dizia Santo Agostinho.
A Palavra hoje evidencia a comunhão e o amor fraterno na comunidade eclesial e também na oração, na correção amorosa, na mútua amizade. Nisso realizamos a união com Cristo para sempre, como rezamos na oração final deste dia, e nos tornamos comunidade cristã, sacramento de salvação para o mundo.
A Eucaristia nos faz discípulos missionários: exige que permaneçamos firmes e constantes no bem, na dedicação aos irmãos e na permanente busca de reconciliação, vencendo o egoísmo, a alienação e o pecado, que rompem a comunhão com o Pai.
padre Benedito Mazeti

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“Como administrar conflitos na comunidade...”
O evangelho deste XXIII Domingo Comum deveria ser proclamado solenemente em todas as nossas reuniões pastorais, porque traz ensinamentos profundos para um desafio sempre presentes, e que nunca sabemos como enfrentar: como administrar os conflitos surgidos dentro da comunidade...
Muitas vezes a gente prefere fazer “vista grossa” diante de certas “briguinhas” entre membros da comunidade, e quando nos omitimos diante dessas situações, que transformam a pastoral, o movimento, ou até a comunidade, em um barril de pólvora, pronto para ir aos ares; estamos fazendo como aquela faxineira desleixada, que empurra a sujeira em baixo do tapete, fazendo de conta que tudo está limpo.
Nesse evangelho somos todos convidados a abrir o coração, a remover a “crosta” que o encobre, endurecida pelo orgulho e prepotência, se faltar-nos essa humildade a nossa alegria de ser comunidade nunca será completa, pois se estiver “De mal” com um irmão ou irmã, o nosso pecado contamina toda comunidade.
A conclusão do evangelho nos faz pensar seriamente nas relações conturbadas existentes no seio da comunidade, como é que duas pessoas que não se querem bem, vão orar com toda assembléia, fazendo diante de Deus um só pedido, uma só prece? Preces que brotam de corações tomados por ressentimentos, além de não serem ouvidas por Deus, comprometem a oração de toda assembléia. Que Pai ou Mãe, se alegra ao saber que um dos irmãos está brigado com o outro? Com Deus é a mesma coisa. Sem misericórdia, amor e compreensão, não há de se resolver nenhum conflito.
É nesse sentido que Jesus recomenda a correção fraterna, que só pode ser feita entre irmãos, entre os quais há uma total liberdade de expressão, é preciso ter humildade, tanto para fazer a correção como para aceitá-la. A Comunidade é como o circuito de um aparelho eletrônico, tem que estar bem unido, bem ligado um ao outro, senão a graça de Deus, conectada a nós pelo Santo Batismo, não fará seus efeitos. Como é que o amor de Deus vai passar de um irmão para o outro, se há na comunidade relações que foram rompidas?
As divergências de opiniões só nos ajudam a crescer, desde que o debate em nossas reuniões, não seja marcado por velhas mágoas, ciúmes ou inveja, afinal, a nossa unidade se torna mais consistente na adversidade e no pluralismo de valores, precisamos sim, de ter oposição, mas que seja inteligente e sempre direcionada ao bem comum e não ao bem particular ou pessoal.
Uma oposição assim, que não seja burra, enriquece a comunidade e a faz crescer nos valores do evangelho. Mas que nunca falta-nos a consciência de que o Senhor está no meio de nós, que o Dono da Obra é Ele, somos apenas obreiros, cada um com seus carismas e suas possibilidades de realizar ações concretas, esse poder enquanto possibilidade de fazer sempre o melhor para a comunidade, é sempre muito bem vindo...
diácono José da Cruz

“O verdadeiro discípulo de Jesus vive a correção fraterna”
Iniciando o mês de setembro, na semana da Pátria, comemoramos o Dia da Independência do Brasil, seguindo a Revolução Farroupilha, o 17º Grito dos Excluídos, até a celebração do Dia Nacional da Bíblia, no último domingo. Todo o cristão é convocado a mostrar ao mundo os anseios da natureza devastada e do povo abandonado pelos poderes públicos e pela sociedade.
A intenção, também, é reavivar nossa relação com as Escrituras Sagradas, fonte de fé e ins­piração para a vida cristã. Nelas encontramos o amor de Deus que nos capacita a amar e a perdoar, resultando na prática da correção fraterna, tema deste domingo. Encerramos o mês vocacional com a revelação do chocante “peso da cruz”, caminho de quem deseja seguir as pegadas do Mestre, como seus “Cirineus”.
Os textos são como um chamado a comunidade cristã, formada por pessoas sujeitas ao erro, para que permaneçam unidas na missão do amor, pela força do Senhor. O amor fraterno é um meio de conversão a fidelidade ao Pai, que deseja que todos vivam como seus filhos. O pecado é um desvio de relações e necessita de uma ação libertadora de Deus que, sempre presente, não abandona a ovelha “fujona” e deseja que nenhum dos Seus se perca. Nós, como comunidade eclesial, fazemos a experiência da fraternidade e do perdão mútuo, levando o irmão a abraçar e assumir sua fé no seio da comunidade, comprometida com a reconciliação e o perdão. Somos responsáveis uns pelos outros, como irmãos de fé que brota da caridade e leva à comunhão.
Primeira Leitura: Ezequiel 33, 7-9-
“Se não advertires o ímpio, eu te pedirei contas da sua morte!”
O texto nos mostra a missão do Profeta como a de um vigilante da história que, por sua sensibilidade espiritual, agia como sentinela das mensagens Divinas. Ele é o profeta que percebe o caminho que o Senhor deseja para conduzir seu povo, por isso se torna o profeta da esperança que convoca o povo à conversão e a retomada de vida transformadora da sociedade. É seu dever falar francamente, alertar os que correm perigo de se afastar de Deus, porque, se não cumprir essa missão, será responsabilizado pela degradação de seus irmãos. Cabe a cada um ouvi-lo. Essa é a missão de todos nós, como profetas, sentinelas e responsáveis pelo destino e salvação de nossos irmãos.
Ezequiel exerce sua missão profética entre os exilados judeus na Babilônia, procurando convencê-los da falsa esperança do fim do exílio. Eles se sentem abandonados em terra estrangeira e privados de templo, sacerdócio e culto, levando-os a duvidar da bondade e fidelidade de Deus. Ezequiel, nessa fase, mostra ao povo que Deus é fiel e não os abandonará. A imagem de sentinela e vigilante é uma figura que visa defender o povo dos inimigos e dar o alarme oportuno, caso contrário será responsabilizado. Assim é o profeta, homem de fé e atento ao mundo, o guarda de Deus a serviço de Seu Povo, protegendo-o dos perigos.
O profeta sente que a realidade dos homens contraria a verdade de Deus; cumpre sua missão pela dedicação e força Divina e, para provar que Deus não abandona seu Povo, dá exemplo de persistência ao mandato recebido. Assim age nosso Deus, o mesmo de ontem,  hoje e sempre, chamando profetas/sentinelas que alertem os homens de seus erros. O batismo é o sinal profético dos que vivem em comunhão com Deus, onde buscam coragem responsável, para bancar o mundo e dizer o que aflige e destrói os homens.
Segunda Leitura: Romanos 13,8-10
O amor é o cumprimento perfeito da Lei
Paulo convoca os cristãos a centralizar sua existência cristã no mandamento do amor. Cristianismo sem amor é uma mentira. Na dúvida com teu irmão, tome como referência a Lei das leis, Ama teu próximo como a ti mesmo.  O caminho de Deus à salvação é o amor, que implica em atitudes coerentes com a vida cristã, assumida no batismo. Cabe ao homem acolher e aderir à proposta de Jesus. O amor está no centro de toda experiência religiosa, por isso o autêntico cristão não é um acomodado, de braços cruzados, ele tem uma relação de amor com seus irmãos.
Jesus na última ceia sintetizou o amor: “amai-vos uns aos outros como Eu vos amei”! Preocupamo-nos em discutir ritos, leis, autoridades e disciplinas e esquecemos o essencial. Em nossa existência de filhos de Deus, amor deve ser o essencial. Nossa comunidade cristã, a exemplo das comunidades de Jerusalém, deve ser grupos fraternos com sinais do amor, onde todos são acolhidos para que, os de fora, possam dizer: eles são diferentes, são sinais proféticos da compreensão, do amor, sem egoísmo, ciúmes ou inveja! Nossa dívida de amor é grande, gestos de perdão, partilhas, acolhidas e reconciliações, sempre bate no amor maior, o perdão de Deus que em Seu Filho nos redimiu.
Evangelho: Mateus 18,15-20
Se ele te ouvir, tu ganharás o teu irmão
A comunidade vivia crise de tensão e relacionamento interpessoal. Mateus, em seu discurso eclesial, como catequese, preocupado e com o objetivo de harmonizar seus irmãos no amor e no perdão, prescreve orientações que pudesse conduzi-los à prática da verdadeira vida cristã. A lei do amor os orienta a uma tática de correção, entre irmãos, com o intuito de reconduzi-los ao bom caminho, sem melindres ou difamação, mas com veemência e amor fraterno para uma vida coerente. Na ação cristã, a correção não deve ser provocativa nem com ódios ou rancores: ela deve ser amorosa e feita com humildade para conduzir o irmão mudança de atitudes. O evangelista deseja mostrar que a Igreja é formada de santos e pecadores (o joio no meio do trigo), propondo meio de correção adequada.
O texto deixa clara a nossa responsabilidade em estender a mão ao irmão para que tome consciência dos seus erros: é o mandamento do amor, sem humilhação, mas diálogo. A vivência em comunidade propicia orgulho, superioridade ou prepotência, uns magoam com atitudes desleais, por isso escandalizam, outros, rebeldes, rejeitam os afoitos ou presunçosos. Aí deve entrar a ação calma e serena de pessoas que, sabendo contornar a situação, leve à correção pessoal e honesta, do irmão em conflito, seguindo o rito proposto, com pedido de socorro da comunidade, até a condenação extrema de situação de pagão e à margem da vida cristã. Trata-se de posições da Igreja, de ligar ou desligar, reunida em oração, por atitudes de erros, sem condenação, pois é o infrator que se exclui do direito ao Reino.
A posição cristã deve ser de tolerância e respeito pelo outro, pelas diferenças, erros ou falhas que afetam o bem comum, distinguindo a pessoa de seus atos, o que não significa indiferença, só porque “ele é maior e vacinado”, por isso é cômodo cruzar os braços. Tolerância não é sinônimo de indiferença, mas ação de respeito. O evangelho nos intima a levar o irmão infrator à mudança de atitudes com base no mandamento do amor, sem pactuar com seus erros. A lógica de Deus é o perdão, a conversão, por isso longe de ser uma condenação ou humilhação em confronto com o infrator, mas um ato de misericórdia e de paz que o conduza a mudança de vida. A comunidade de fé e conversão nos convida a caminhar como irmãos em busca da santidade por meio da correção fraterna e caridosa.
padre Carlos Henrique de Jesus Nascimento
O evangelho de Mateus se caracteriza por ser uma apresentação de Jesus, suas palavras e seus feitos, adaptada às comunidades de discípulos que vieram do judaísmo.
No texto do evangelho de hoje, Mateus insere algumas orientações sobre a correção fraterna em uma fala de Jesus sobre as regras de convívio nas comunidades. As orientações são apresentadas após a abordagem das questões da disputa pelo poder, do escândalo, e das defecções (Mt. 18,1-14). Assim, Mateus tem em vista manter a harmonia na comunidade.
Em geral, há uma tendência de simplesmente excluir alguém que é considerado problemático. Conflitos, sensibilidades feridas e ofensas são comuns neste convívio. Contudo deve-se procurar superá-los com a mudança dos comportamentos que provocam estes conflitos, sem defecções. Com seu texto, Mateus desenvolve, para sua comunidade, um simples dito tradicional de Jesus, que será mencionado por Lucas.
Em Lucas, de maneira singela, a questão envolve apenas duas pessoas, ficando em evidência a prática do perdão. Em Mateus temos a ampliação do dito colhido na tradição das primeiras comunidades, dando-lhe um caráter de regra de procedimento para suas comunidades. Existem semelhanças entre esta abordagem de Mateus e a prática da comunidade dos essênios de Qumran.
Há autores que sugerem que Mateus sofre a influência desses essênios. Conforme Mateus, a prática do perdão, na comunidade, se dá em três estágios. O diálogo entre os dois irmãos envolvidos, a ampliação do diálogo envolvendo duas ou três testemunhas e, finalmente, a questão debatida pela comunidade dos seguidores de Jesus - a Igreja.
Deste modo, percebe-se uma metodologia formalizada em regra. Hoje ela pode apenas inspirar uma prática do perdão e da reconciliação de uma maneira mais livre, espontânea e verdadeira. A correção fraterna, que brota do amor e do perdão, é fundamental para manter-se a unidade na comunidade.
No desfecho deste processo de correção fraterna apresentado por Mateus, parece discriminatória a rejeição final com a recomendação de que aquele que mesmo à igreja não ouvir, seja tratado como se fosse um pagão ou um publicano (coletor de impostos). É estranha esta recomendação, uma vez que Jesus empenhava-se profundamente para conviver com publicanos e pagãos, tidos como pecadores.
Percebe-se, assim, seria contraditório considerar que Levi, o publicano - coletor de impostos, também chamado Mateus, seja o autor deste texto. Mateus articula, em conclusão, três sentenças: uma sobre o poder de ligar e desligar na terra, relacionada à tradição do primado de Pedro, surgida a partir dos anos oitenta, conforme Mateus 16:19); outra destacando a importância de orar em comunidade e a terceira assegurando a presença de Jesus entre os discípulos reunidos e seu nome. Esta presença de Jesus entre os discípulos tem sentido especial no momento em que não mais existe o Templo onde se pretendia ter a presença de Deus.
O emprego da palavra "reunidos" (sinagogain) indica a substituição da sinagoga pela comunidade. A presença de Deus, Jesus, se dá na comunidade que vive o amor misericordioso, vigilante para a reconciliação e a comunhão. "O amor é o cumprimento perfeito da Lei".
Oração
Pai, que a presença de teu Filho ressuscitado na comunidade cristã seja um incentivo para que nós busquemos pautar nossa ação pela tua santa vontade.
diácono Miguel A. Teodoro

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Domingo, 4 de Setembro de 2011                          Gilberto Silva
Evangelho Mt 18, 15-20
 “Porque onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles”
 Caríssimos irmãos e irmãs,
 Este ensinamento de Jesus nos revela o quão é grande o amor do Pai para com os seus filhos. Recorda em muito a parábola do Filho Pródigo. É o amor sem limites e sem barreiras, que supera o ódio, o revanchismo, o egoísmo, a Lei de Talião (Olho por olho e dente por dente).
Se teu irmão peca contra ti é porque tens alguma pendência contigo. Caso você, mesmo “machucado” pela falta cometida, resolve chamá-lo a sós e dar-lhe o perdão, você estará passando um bálsamo sobre aquele “machucado” e terá adquirido o respeito de quem o fez. Obtendo assim, um novo amigo e irmão.
Se teu irmão, ainda assim não ouvi-lo, convide as pessoas de sua confiança e dele também para que juntos testemunhem a sua atitude para com o outro. Lembre: “Porque onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles”. É a igreja presente ligando e desligando tudo na terra e no céu. Desligar dentro da igreja é o mesmo de excomungar o seu irmão. É retirar dele a chance definitiva de reconciliação. É uma decisão comunitária tomada com o aval de Deus Pai.
É por isso que quando nos reunimos em assembléia para rezarmos e participarmos da sagrada eucaristia, devemos antes confessar os nossos pecados juntos, afim de recebermos não só perdão de nossos irmãos, mas especialmente o do Pai.
Quando existe um ponto divergente entre duas ou mais pessoas é necessário uma “negociação” para finalizar um acordo, caso contrário haverá danos e alguns talvez permanentemente entre as partes. Vejam os casos de países que foram destruídos e tiveram suas populações massacradas por falta de entendimento, de diplomacia.Exemplo: Iraque X E.U.A., Rússia X Geórgia.
Quantos casais que discutem e acabam virando as costas uns para os outros, criando muros e barreiras invisíveis quase intransponíveis e permanentemente?
Quantos pais que não respeitam os filhos e vice-versa e acabam por digladiar, deixando o inimigo interpor-se entre eles, gerando ódio até ao ponto de quase se matarem ( e às vezes se matam) não é mesmo?
O espírito de Deus que vive em você sabe exatamente quando e onde você errou para com o seu irmão. É a sua consciência cristã. Cabe a você, meu irmão e minha irmã, procurar o mais rápido possível a outra parte infringida e pedir-lhe o perdão, antes que coisas piores venham acontecer a você e a ele também.
Umas das situações mais difíceis são quando se trata da mentira, do perjúrio, da fofoca, que atinge o seu irmão (ã) dentro da sua casa, do seu trabalho e até mesmo da sua comunidade eclesial, onde por motivos fúteis tenta-se denegrir a imagem de outrem em troca de carinhos, promoções e destaque no trabalho ou na igreja.
Deve ter-se sempre em mente que apesar de sermos carnais, o que prevalece em nós é o espírito, portanto devemos estar sempre conectados uns aos outros. Se houver ruptura de uma das partes, a outra deverá buscar a união, mesmo que para isto recorra aos outros irmãos e irmãs. Somos todos iguais e imagem de Deus, portanto sêde perfeitos como Ele é.

Gilberto Silva
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23º Domingo do Tempo Comum, A.

Naquele tempo, “Jesus disse a seus discípulos: Se o teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo, mas em particular, à sós contigo! Se ele te ouvir, tu ganhaste o teu irmão. Se ele não te ouvir, toma contigo mais uma ou duas pessoas, para que toda a questão seja decidida sob a palavra de duas ou três testemunhas. Se ele não vos der ouvido, dize-o à Igreja. Se nem mesmo à Igreja ele ouvir, seja tratado como se fosse um pagão ou um pecador público. Em verdade vos digo, tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu. De novo, eu vos digo: se dois de vós estiverem de acordo na terra sobre qualquer coisa que quiserem pedir, isto vos será concedido por meu Pai que está nos céus. Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome eu estou ali, no meio deles.”

Amados Irmãos,

O evangelho deste domingo traz duas grandes mensagens que rezam a forma pela qual o corpo da Igreja deve agir. Muito pouco procuramos saber o que é certo, menos ainda procuramos acolher aqueles que têm pecado. Contudo, a acolhida perpassa por uma situação/condição obrigatória de se reconhecer pecador, necessitando assim da correção fraterna e da vida de cruz.

Entretanto, é árdua a tarefa de ser IGREJA EM VERDADE. Muitas vezes nos resguardamos no descaso e deixamos de dar o discernimento aos que precisam do mesmo. Negligenciamos a fé, açoitando o cordeiro, libertando os lobos. Todavia, a tomada de decisão é o fator capaz de alterar toda esta realidade: “Tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber, fui peregrino e me acolhestes, estive nu e me vestistes, enfermo e me visitastes, estava na cadeia e viestes ver-me” (Mt 25, 35-36).

Quando encaramos um situação adversa, de pecado ou que nos exige uma resposta moral, freqüentemente nos esquecemos de dar o testemunho da vida em Cristo Ressuscitado. O Senhor Nosso Deus nos acolheu e nos amou em todos os instantes. Porém, não deixou de haver momentos de discernimento, sermões e “puxões de orelha”. O ser humano necessita de um certo grau de acompanhamento em suas jornadas. Alguns mais, outros menos. Muitas vezes este acompanhamento será realizado dentro da Comunidade formada Igreja. Assim, não podemos rejeitar a possibilidade de salvação que o Cristão merece e tem por direito. É dever de todos aplicar a correção conquanto que seja fraterna, amiga, que vise um fortalecimento constante e crescente conforme os desejos e ensinamentos de Deus.

Retomemos nossos compromissos batismais. Confirmemos este na Crisma. Coloquemo-nos em prática em nossas vidas. Digamos juntos sim ao amor de Deus, agindo conforme Jesus nos ensinara. Pois uma vez reunidos em comum pensamento e ação, o Senhor estará conosco. E com Ele tudo podemos. Podemos ligar aos céus nossos irmãos desvirtuados, desencaminhados, abandonados à própria sorte, se nos pusermos e tentarmos edificá-los... Caso tenhamos tempo, paciência e dedicação de acolhermos suas feridas, lavá-las e curá-las, passo a passo, pouco a pouco...

As maiores transformações na vida acontecem no decorrer do tempo, do germinar silencioso de uma semente, no romper calado de um broto, no crescer constante de uma muda. Por vezes dias, outrora meses, quiçá anos serão necessários, mas a certeza do trabalho é a Eternidade em Glória anunciada. Quem não quiser seguir o Cristo, que tenha ao menos noção de quem se trata. Assim teremos feito nosso trabalho, mas com certeza não os deixaremos fora de nossos desejos – em oração – de ligarmos todos e qualquer ser humano ao Seu Criador no Céu.

Fiquem com Deus,
Catequista Bruno Velasco,
MEJ & A.O.

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04 de Setembro - DOMINGO
Evangelho Mateus 18, 15-20
“Como administrar conflitos na comunidade...” - José da Cruz
Evangelho Mateus 18, 15-20
                                                                          “Se o teu irmão errar..."
O evangelho desse  Domingo  deveria ser proclamado solenemente em todas as nossas reuniões pastorais, porque traz ensinamentos profundos para um desafio sempre presente, e que nunca sabemos  enfrentar: como administrar os conflitos surgidos dentro da comunidade...
Muitas vezes a gente prefere fazer “vista grossa” diante de certas “briguinhas” entre membros da comunidade, e quando nos  omitimos diante dessas  situações, que transformam a pastoral, o movimento, ou até a comunidade, em um barril de pólvora, pronto para ir aos ares, estamos fazendo como aquela faxineira desleixada, que empurra a sujeira em baixo do tapete, fazendo de conta que tudo está limpo. "Aqui em nossa comunidade as pessoas se amam e se querem bem" , como se o ser humano já fosse em sua essência esse bem supremo. Nesse evangelho somos convidados a olhar a nossa relação com o próximo, marcada por tantos limites. No fundo o apelo é , para que nos reconheçamos assim, incapazes de uma relação perfeita, pois a plenitude do amor faz parte da nossa esperança escatológica, um dia seremos assim como imaginamos, aquela comunidade ideal sonhada por Lucas no Livro dos Atos, onde todos se amavam....
Até que chegue esse dia tão esperado, temos que ter muito presente em nossa vida de comunidade, os ensinamentos do evangelho, tendo uns pelos outros um amor co-responsável que quer ajnudar o outro a crescer pois assim é a correção fraterna. Se faltar-nos essa compreensão para com o outro, a nossa alegria nunca estará completa e este nosso pecado irpá contaminar toda comunidade.
A conclusão do evangelho nos faz pensar seriamente nas relações conturbadas existentes no seio da comunidade, como é que duas pessoas que não se querem bem, vão orar  com toda assembleia, fazendo diante de Deus um só pedido, uma só prece?  Preces que brotam de corações tomados por ressentimentos, além de não serem ouvidas por Deus, comprometem a oração de toda assembleia. Que Pai ou Mãe, se alegra ao saber que um dos irmãos está brigado com o outro? Com Deus é a mesma coisa. Sem misericórdia, amor e compreensão, não há de se resolver nenhum conflito.
É nesse sentido que Jesus recomenda a correção fraterna, que só pode ser feita entre irmãos, entre os quais há uma total liberdade de expressão, é preciso ter humildade, tanto para fazer a correção como para aceita-la. A Comunidade é como o circuito de um aparelho eletrônico, tem que estar bem unido, bem ligado um ao outro, senão a graça de Deus, conectada a nós pelo Santo Batismo, não fará seus efeitos. Como é que o amor de Deus vai passar de um irmão para o outro, se há na comunidade relações que foram rompidas?
As divergências de opiniões só nos ajudam a crescer, desde que o debate em nossas reuniões, não seja marcado por velhas mágoas, ciúmes ou inveja, afinal, a nossa unidade se torna mais consistente na adversidade e no pluralismo de valores, precisamos sim, de ter oposição, pessoas que pensam diferente, mas que seja inteligente e sempre direcionado ao bem comum e não ao bem particular ou pessoal.
Uma oposição assim, que não seja burra, enriquece a comunidade e a faz crescer nos valores do evangelho. Mas que nunca falte-nos a consciência de que o Senhor está no meio de nós, que o Dono da Obra é Ele, somos apenas obreiros, cada um com seus carisma e suas possibilidades de realizar ações concretas, esse poder, enquanto possibilidade de fazer sempre o melhor para a comunidade, é sempre muito bem vindo. Admoestação de Jesus: Se o teu irmão errar.. o ato do erro não é uma excessão, não se trata de uma maça podrer no meio das outras que estão ótimas, pois o erro do outro é oportunidade para exercemos a caridade, a misericórdia e a compreensão, manifestando um amor que se sente responsvel pelo outro, e só quer ajudá-lo a crescer, e não humilhá-lo em seu pecado.
Diácono José da Cruz
E-mail  cruzsm@uol.com.br
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 Correção fraterna – Sal

            O patrão, o chefe de seção, o professor, a professora, os pais, o síndico, são pessoas encarregadas de orientar, e corrigir de forma fraterna de preferência, as pessoas pelas quais ficaram ou são responsáveis. Porém, o que geralmente acontece, é que essa correção nem sempre é fraterna, mais sim desumana, dizendo um português bem claro. Em vez de nos dirigir ao outro que cometeu um erro com a devida educação, de forma cristã, avançamos sobre ele com toda raiva, de forma agressiva, com palavras humilhantes, como por exemplo: Seu burro!
            Não é isso que Jesus nos ensina no Evangelho de hoje!  Jesus recomenda para que façamos uma correção discreta, ao irmão que cometeu um erro, de forma particular, a sós, e não gritar com ele para que todos saibam quem manda aqui...Para que todos saibam que você é o chefe e que aquele coitado é seu súdito, e deve obedecê-lo, mesmo que ele saiba mais do que você. É isso mesmo! O subalterno às vezes sabe mais que a coordenadora, que a diretora, que o líder da seção, etc.
Testemunho: Certa vez, quando trabalhei em um banco, cujo gerente cheio de problemas de personalidade, como complexo de inferioridade, sabia menos do que eu. Imagine o que ele fazia?  Perseguia-me o tempo todo, para compensar a sua grande deficiência intelectual, pois havia cursado apenas o ciclo básico, enquanto eu estava estudando para professor, e já tocava um curso de admissão ao ginásio com duas turmas somando 84 alunos. Naquela época era como se fosse um cursinho de preparação para a faculdade. Isso para ele era uma grande ameaça ao seu poder de chefe absoluto.
            Prezado irmão, prezada irmã. Você exerce um cargo de mando, de direção, de coordenação, de liderança, de chefia? Pense numa coisa: O melhor chefe é aquele que manda pedindo: Por favor, me faça isso... em vez de  eu quero...  Um chefe que respeita seus subalternos, empregados, professores, dirigindo-se a eles com firmeza, porém com amor fraterno. Seja imparcial, sem mostrar preferência por nenhum deles ou delas.  Seja justo, coerente, distante, porém amigo, ou melhor, imitador de Cristo. Quando tiver dúvida como deverá agir diante de uma encrenca, de um problema qualquer, principalmente intrigas entre dois funcionários, faça a si mesmo esta pergunta: COMO JESUS AGIRIA DIANTE DESTA SITUAÇÃO?
Sal.
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